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“É preciso encontrar formas mais baratas e eficazes de se fazer ciência no Brasil”

Em torno dessa ideia o professor titular Vasco Azevedo reuniu um grupo de colegas do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da UFMG. Cansados de reclamar da situação política e financeira do país, eles decidiram ir à luta. De olho na qualidade da produção científica, eles defendem que sejam firmados convênios institucionais com publicações de acesso aberto (open access) e incentivado o uso compartilhado de equipamentos em espaços multiusuários. 

 

Doutor em Genética de Microrganismos pelo Institut
National Agronomique Paris Grignon,
o professor é pós-doutor pelo Departamento de
Microbiologia da Escola de Medicina
da Universidade da Pensilvânia

 

ACBio - Em linhas gerais, o que o pesquisador precisa para fazer ciência, hoje, especialmente em tempos de vacas magras?

Vasco Azevedo - Além de ensinar para o aluno que hoje a gente precisa ter um número de publicações com coerência e ética, temos que ensinar a “vender o peixe”, direito. Os alunos precisam aperfeiçoar o inglês e, de maneira geral, têm problemas de pensar seu texto, ou seja, de como mostrar o que se quer dizer, de forma objetiva, clara e convincente.  Mas temos outros problemas. Nós aqui, no ICB, temos uma ciência muito bem estabelecida e muito bem feita, mas há uma flutuação de dinheiro enorme, que prejudica e atrasa demais os trabalhos. Outra coisa é dar visibilidade ao seu artigo. E a forma de publicação conhecida como open access, uma pessoa vai ler e citar o seu artigo, entrando no que se chama índice de citação. Quanto mais citado o artigo é, maior sua relevância e importância no campo acadêmico. Não adianta, você ter uma mina de ouro sem que as pessoas saibam onde ela está. Essa visibilidade traz indústrias com interesse em serem parceiras, convênios com outras universidades, aumenta sua respeitabilidade científica e alunos co-autores podem ser vistos e olhados de forma diferente, por exemplo para fazer um pós-doutorado. Em Portugal, por exemplo, o acesso aberto se tornou uma política de Estado (Clique para conhecer).

 

ACBio - Se você pudesse resolver alguns desses problemas, o que o senhor acha que deveria ser feito?

VA - Acho que, agora, está ocorrendo uma mudança de paradigma na ciência. E, por isso, é preciso pensar novas formas de se fazer ciência, inclusive nas coisas mais básicas desse processo. Acredito que o melhor caminho para as universidades seja a criação de espaços multiusuários, multicêntricos e também multidisciplinares. Por exemplo, um aparelho científico caro, que é de uso individual, pode ser colocado em laboratórios divididos entre vários usuários, conhecidos na Europa como facilities, ou laboratórios multiusuários. Isso diminuiria o custo de cada vez que se usa esse aparelho, inclusive diluindo seu custo de manutenção, que normalmente fica num valor considerável. A UFMG poderia se centrar em construir espaços específicos para esse tipo de laboratório: como, por exemplo, foi com o Biotério Central, onde são criados animais para experimentação, a custo menor. Portanto, em vez de chegar para um profissional e falar “você vai publicar um artigo por ano e nós vamos pagar”, vamos dizer: “nós vamos pagar 100 artigos”, para a Comunidade. E isso ainda vai fomentar a competição de uma forma positiva. Para isso acontecer é preciso melhorar a infraestrutura. E é preciso que esses espaços tenham técnicos dedicados, com aparelhos em quantidade e manutenção adequados, e que serão de uso coletivo, otimizando o custo e o uso.

 

ACBio – Você está propondo é que a Universidade se prepare para um novo cenário?

VA – Sim. A Comunidade Acadêmica tem de se unir. Mais do que nunca. E foi pensando assim que fizemos de tudo para trazer para cá, para o ICB, no final de maio, o BioMed Central Author (Clique para saber +).  Aberto a quem se interessou pelo tema. Centenas de pessoas participaram. Veio gente de várias áreas. Confesso que até me surpreendi. E a própria editora de Biologia da BioMed, Maria Kowalczuk, veio de Londres, conversar conosco e tirar dúvidas relacionadas às publicações em Acesso Aberto . Nossa intenção é ver firmado um convênio com eles, de forma que haja uma contrapartida da Universidade e uma da Fapemig. E mostrar isso também para o estado. Podemos inclusive fazer um pacote comum, envolvendo outras Universidades do Estado. Mas, aí a gente fica numa situação parecida com a do transporte nas grandes cidades. Eu posso ir de carro, que não anda, ou ir de uma forma coletiva, compartilhada, mais ágil, mais barata e eficiente. E até mais “saudável”. O caminho é este. Agora é descobrir os meios de pelo menos começar a percorrê-lo. Quem quiser participar será bem-vindo.

 

COBERTURA FOTOGRÁFICA
Veja dezenas de fotos de Foca Lisboa no evento da BioMed Central Author no Flickr do ICB UFMG.

Clique aqui: http://bitly.com/BioMedCentralAuthor2015

 

 

OUÇA

Planeta Bio #2 - Ciência de um jeito diferente

Produção e locução: Sarah Dutra - Estudante de Comunicação Social.
Entrevista: Marcus Vinicius dos Santos - Jornalista

 

 

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