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DSC 9536Ao lado da equipe que compôs ao longo dos últimos anos, o jornalista foi homenageado pelos colegas e recebeu o agradecimento dos diretores Ricardo Gonçalves e Élida Rabelo pelo trabalho realizado

Com uma trajetória de quase dez anos à frente da Assessoria de Comunicação e Divulgação Científica do Instituto de Ciências Biológicas (ACBio), o jornalista Marcus Vinicius dos Santos assumirá novo desafio profissional. A partir da próxima segunda-feira, 30, ele passa a compor a Comunicação do Centro de Tecnologia em Medicina Molecular (CTMM) da Faculdade de Medicina da UFMG, onde atuou por mais de 20 anos.

Especialista em Comunicação Pública da Ciência, Marcus Vinicius chegou ao ICB UFMG em 2015, a convite da então diretora, professora Andréa Mara Macedo. Como ele mesmo conta na entrevista a seguir, o maior desafio foi começar já que, naquela época, tudo que se tinha era uma sala.

Hoje, ladeado pela equipe que compôs ao longo dos últimos anos e pelos pares da administração central do Instituto, o jornalista se despediu recebendo as devidas homenagens e agradecimentos dos diretores Ricardo Gonçalves e Élida Rabelo pelo trabalho realizado.

ACBio: Depois de mais de oito anos à frente da Comunicação do ICB, você se despede para assumir um desafio ainda maior no CTMM UFMG. Dá um aperto no coração, misturado com um frio na barriga?

Marcus Vinicius Dos-Santos: Ah, Dayse... É muito... É um conflito de emoções. Porque todo recomeço traz aquela alegria de começar uma coisa nova, ao mesmo tempo a tristeza de abandonar uma coisa que a gente custou para construir, que deu trabalho para fazer. Mas é muito bom saber que eu posso continuar contribuindo com esse trabalho que a UFMG tem de divulgação científica e agora de uma forma mais específica, que é dentro de um laboratório, de um centro de tecnologia. Então, eu saio com um pesar, eu queria os dois(risos), mas também com a alegria de começar um trabalho novo, desafiador e que ainda temos que pesquisar bastante para saber exatamente como fazer. Mas eu gosto de desafios!

ACBio: No encerramento de um ciclo, geralmente, a gente costuma fazer uma análise, uma avaliação do que passou, enfim, uma autocrítica... Como você vê a sua trajetória na Comunicação do ICB ao longo desses quase 10 anos?

Marcus Vinicius Dos-Santos: Há alguns anos eu li que uma arte, um livro, a crítica literária, por exemplo, ela só é possível para quem vê de fora. Para quem está dentro, normalmente, a visão é enviesada. A gente sempre vai achar que a gente fez o melhor possível. Eu acredito que eu fiz o melhor que eu pude. Que eu podia ter feito. Mas eu, sinceramente, eu gosto de ouvir a opinião, espero que as pessoas deem opiniões positivas. Mas a gente teve desafios, teve momentos bons, teve momentos ruins. Q uando eu cheguei na Comunicação, a gente não tinha nenhuma mesa... Olhando para trás, eu acho que o que eu pude fazer, eu acredito que eu tenha feito, em dedicação, em buscar conhecimento, tentar descobrir novas e inovadoras formas de fazer divulgação científica, jornalismo institucional. Acho que tudo isso a gente tentou. Em alguns momentos a gente acertou, em outros momentos nem tanto.

(Você pode ter acesso à íntegra dessa entrevista também em vídeo no Canal ICBUFMG no Youtube: https://acesse.dev/4kbB4)

ACBio: Vamos começar do começo. Como foi que a ACBio, tal como é hoje, teve início? E qual o maior desafio que você já teve à frente Comunicação do ICB?

Marcus Vinicius Dos-Santos: Olha, acho que o maior desafio foi começar. Quando eu cheguei, não tinha nenhuma mesa. Em 2015, tinha uma sala e eu tive que ir atrás da mesa, da cadeira. O computador eu trouxe, doado da Faculdade de Medicina. A cadeira eu trouxe também de lá. Eu não sabia o que fazer. Como é que eu arrumo uma cadeira? Ah, tem que ver não sei onde. Aí eu ia lá e não tinha. Aí eu precisava de uma equipe, não era possível, e a gente fez projeto de extensão para poder captar a bolsa. Então, todas essas coisas, a gente enfrenta desafios todos os dias. Alguns a gente está preparado para eles. Por exemplo, produzir uma notícia. Acredito que um profissional de comunicação está preparado para produzir uma notícia. Mas as questões burocráticas, as questões administrativas, sempre foram os meus grandes desafios.

Então, eu acredito que a Universidade, como um todo, precise criar estruturas, formas de montar estruturas adequadas e comprometidas com resultados institucionalizados. Sem isso a comunicação não tem o valor que ela pode ter, que é formar uma imagem positiva da instituição, mostrar para a sociedade o que essa instituição é capaz e o que ela precisa para continuar produzindo cada vez melhor. Isso eu acho que é imprescindível e a universidade está nesse caminho, mas a gente ainda precisa caminhar bastante. Principalmente, em legislações que permitam uma autonomia maior das gestões que a universidade tem.

DSC 9498ACBio: E você teve algum suporte, algum apoio, que você considere fundamental para o sucesso do seu trabalho? Porque é notório, está registrado que a sua presença rendeu muitos frutos em relação à visibilidade do ICB.

Marcus Vinicius Dos-Santos: Eu não posso deixar de dizer como começou tudo. Lá para 2012 o falecido professor Tomaz Aroldo Da Mota Santos (Gestão 2010 – 2014) me convidou para vir para cá, uma época que não tinha a menor condição de eu sair. Eu estava há 20 anos na Faculdade de Medicina, estava na Assessoria de Comunicação, estava feliz, estava tudo certo. Passou o tempo, junto com a professora Ângela Maria Ribeiro, a professora Andréa me convidou de novo e, dessa vez, eu tive a oportunidade. Eu tinha passado no doutorado aqui no ICB. Então achei que seria uma boa aliar o útil ao agradável. Era um desafio e eu adoro desafios. Foi um pouco complexo porque eu não tinha pensado que criar uma assessoria de comunicação e fazer um doutorado seria duas coisas muito grandiosas ao mesmo tempo, mas acabou dando certo. Precisou de muita energia, de muito trabalho. Mas eu sempre tive o apoio da diretoria. O professor Carlos Rosa, o professor Ricardo Gonçalves, junto com a professora Élida Rabelo, foram muito parceiros e tentaram solucionar as dificuldades que a assessoria tem. Tanto que ao passar do tempo as coisas foram caminhando. Esse apoio institucional foi primordial.

A gente precisa encontrar novas formas de se organizar institucionalmente, de captar recursos, de captar apoio estratégico, ainda que pra uma ação específica ou outra. Sem esse apoio a assessoria não consegue avançar. Como profissional temos a necessidade de que o trabalho avance. Acredito que não exista profissional feliz em ficar no mesmo trabalho diário. É um grande desafio todos os dias... uma matéria diferente, um tema complexo que a gente mal entende e tem que estudar para poder escrever. É muito bom, mas precisa ter uma estrutura que funcione.

ACBio: E o ICB? Como era o ICB de 10 anos atrás? Mudou muita coisa? O que mais te marcou nesses anos? Alguma cobertura especial? Alguma matéria de destaque? Algum furo de reportagem?

Marcus Vinicius Dos-Santos: O que mudou muito foi o reconhecimento da importância da comunicação, a adesão dos professores a dar entrevistas, por exemplo. Quando cheguei eu não conseguia os números dos celulares deles, porque os celulares são pessoais. E as pessoas não queriam me dar, ficavam com medo do que eu ia fazer. E hoje nós já temos acesso mais de uma centena de números. Muito provavelmente por causa da pandemia. Ela contribuiu muito pra que as pessoas percebessem a necessidade de comunicar com a sociedade o que a universidade faz.

DSC 9544Tem outras coisas que eu queria falar. Primeiro dos colaboradores. A primeira estagiária que eu tive foi a Sara Dutra, 2015. Foi muito marcante, porque senti assim: nossa chegou mais um. Eu fiquei feliz. A Sara foi aquela estagiária “pau pra toda obra”. Fez programa de rádio, escreveu, contribuiu muito. Isso ajuda a manter o pique, né? Quando a gente arruma um colaborador que se envolve na causa. Outro estagiário que ajudou muito foi o Anderson Rodrigues, estudante da Biologia. Ele foi o designer que criou o símbolo do ICB, nos ajudou a fazer um avanço na questão estética dos produtos que a gente tinha. Foi muito estratégica a colaboração dele. Todos os estagiários que por lá passaram contribuíram muito e têm uma importância muito grande. Eu quero ainda reforçar, e gostaria que você mantivesse no texto, a chegada da jornalista Dayse Lacerda e do editor de vídeos Henrique Castanheira. Isso foi uma grande vitória, não só porque ela me ajudou muito, mas principalmente porque a diretoria entendeu que era necessário, que não dá pra fazer comunicação de um instituto desse tamanho com um jornalista e um estagiário. Dá pra fazer alguma coisa, mas não dá pra fazer o essencial. Foi extremamente importante para a gente ir pra internet e ir com conteúdo mais agradável, mais relevante. É importante registrar, porque sozinho nenhum de nós faz nada.

Um momento legal aconteceu durante a pandemia. Pela primeira vez uma notícia nossa foi veiculada no Leste Europeu, um país em cujo idioma não sou capaz de dizer uma palavra. O jornalista conversou comigo em Português. Achei que ele ia fazer a matéria em Inglês e ele fez na língua original. A gente não consegue entender, mas traz aquela a percepção de onde nosso trabalho pode chegar. Chegou muito longe. Então, chamo a atenção para outro ponto. A Assessoria de Comunicação precisa de um tempo. Não dá para ficar produzindo, produzindo, escrevendo, escrevendo, e fazendo as mesmas coisas. Tem que ter tempo para planejamento.

ACBio: Se vc pudesse voltar no tempo, você faria algo diferente?

Marcus Vinicius Dos-Santos: Provavelmente, faria. Mas eu não sei te dizer o quê? O que me fez muita falta foi recursos. Eu não sei te dizer o que eu poderia fazer pra alcançar mais recursos. Sinceramente, o que eu podia ter feito, eu sempre tentei.

ACBio: Imagino que tenha muitas. Afinal, você foi criado aqui, sua história de vida se confunde com sua história profissional, passou momentos de sua infância nesses corredores, inclusive, quase colocou fogo em um dos laboratórios (risos), mas... qual a recordação especial você leva do ICB no coração?

Marcus Vinicius Dos-Santos: Ah, menina, que pergunta difícil! Eu não tenho um fato. O que eu levo no coração, de verdade, é um sentimento de gratidão pelo respeito, pela confiança, que as diretorias tiveram com o meu trabalho. É uma coisa que me acalenta a alma.

Eu gosto muito de uma frase que diz que o mais importante é o caminho. Não necessariamente a gente alcançar alguma coisa, porque o caminho é bem recheado de alegrias, de sentimentos.

Eu sou filho de dois servidores do ICB, meu pai e minha trabalharam no ICB. Minha mãe foi da Sessão de Pessoal, ainda na Faculdade de Medicina. Quando o ICB veio para a Pampulha, minha mãe não veio, porque tinha três filhos pequenos. Ela preferiu ficar nas unidades centrais e foi para a escola de Arquitetura. Quando eu era criança, quem me deu minha primeira cueca foi o professor Beraldo, então chefe do meu pai. Então, quando eu cheguei eu tinha esse sentimento de pertencimento, embora mal tivesse vindo nesse prédio antes, exceto as pouquíssimas vezes em que visitei meu pai. Então, uma coisa que gostei muito é desse fato do meu pai ter trabalhado aqui e eu ter vindo trabalhar aqui também. Tenho colegas que me chamam de Darcizinho. Dar continuidade ao legado dele, eu acho isso bom.

ACBio: Aquela que não pode faltar: qual a recomendação pra quem chega para continuar o seu trabalho?

Marcus Vinicius Dos-Santos: Não dá para dizer que a receita de fulano, cicrano, é melhor. É outra. Eu recomendaria paciência, porque as coisas demoram; persistência, porque uma hora sai; dedicação e compromisso. Que aproveite a sua estada, a sua passagem, o seu caminho, porque a gente aprende muito todos os dias. As ciências da vida também são úteis nosso dia a dia. E a gente ouve isso direto da fonte. Tem um dito assim: o maior objetivo da vida é aprender. Então, curta a temporada!

CURRÍCULO

Marcus Vinicius Dos-Santos (http://lattes.cnpq.br/8380189425812814) é um jornalista mineiro, doutor em Biologia Celular e mestre em Medicina Molecular. Atua na área de Ciências da Vida desde 1996.

CT MEDICINA MOLECULAR

Inaugurado em 2011 para consolidar em Minas Gerais um polo de desenvolvimento da tecnologia de PET/CT, o CT Medicina Molecular atua em colaboração com o Centro de Desenvolvimento da Tecnologia Nuclear (CDTN). Considerado um centro de excelência em pesquisa na área de imagem molecular, este CT realiza pesquisas e exames em campos diversos como a oncologia, a cardiologia, a psiquiatria e a neurologia.

Entrevista: Dayse Lacerda - jornalista na ACBio
Fotos: Henrique Castanheira

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