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Mpox.Lab.Virus.ICB Centro.Microscopia.UFMGA imagem mostra uma célula infectada (azul) com várias partículas virais de monkeypox recém formadas (vermelho). Imagem obtida por microscopia eletrônica de transmissão no Centro de Microscopia da UFMG - Crédito da imagem: Laboratório de Vírus ICB.Centro de Microscopia UFMG Pela primeira vez um trabalho científico interpreta principais etapas do ciclo de multiplicação do vírus da “Varíola dos Macacos” e permite maior compreensão de sua forma de reprodução

Esta é para quem anda procurando uma notícia boa. Os pesquisadores do Laboratório de Vírus do Instituto de Ciências Biológicas da UFMG acabam de publicar um artigo no qual analisam, pela primeira vez, aspectos da estrutura e do ciclo de multiplicação do monkeypox vírus, causador da “Varíola dos Macacos”. Usando microscopia eletrônica de transmissão, em alta resolução, o trabalho “Ultrastructural analysis of monkeypox virus replication in Vero cells”, foi publicado no início de fevereiro na revista científica internacional Journal of Medical Virology, uma dos mais relevantes do mundo.

Lab.Vírus.Parte.do.Grupo.2DEZ2022.Marcus.Vinicius.Santos Comunicacao.ICB.UFMGParte da equipe do Laboratório de Vírus do Instituto de Ciências Biológicas da UFMG - Crédito: Marcus Vinicius Santos / Comunicacao ICB UFMGDentre os principais achados da pesquisa, os cientistas relatam ter visualizado aspectos e características importantes do ciclo de multiplicação dos monkeypox vírus. Ao analisar as imagens obtidas de um dos primeiros casos registrados no Brasil, por meio de testes avançados e com apoio de outras instituições e serviços, foi possível confirmar características ainda não descritas na literatura, embora já tivessem sido observadas para outros vírus da família Poxviridae, como os vírus da varíola e o vaccínia, esta última uma espécie estreitamente relacionada ao vírus da varíola.

“Esta confirmação permite mais segurança à Comunidade Científica. Seja para o desenvolvimento de novos estudos que busquem avançar no enfrentamento da doença, se houver um novo surto ou para desenvolver novos tratamentos, por exemplo”, destaca o professor Jônatas Abrahão, do departamento de Microbiologia do Instituto de Ciências Biológicas da UFMG, um dos autores da pesquisa.

BIOLOGIA CELULAR

Entre os achados da pesquisa, os cientistas destacam algumas características que ficam bastante conservadas durante o período da infecção. Houve alterações dos componentes do citoesqueleto, que está relacionado à sustentação e à forma da célula; há maior produção de vírus intracelular maduro (IMV), que é uma das quatro formas de partículas produzidas pelos poxvírus. Essas partículas, chamadas morfotipos, têm papel fundamental na disseminação e no estudo da origem da doença.

Também foi observado que o vírus causa modificações em uma organela celular chamada “retículo endoplasmático rugoso”, um conjunto de membranas cuja função é sintetizar e transportar substâncias. Dentre outras coisas, essas membranas dão origem a uma estrutura chamada “mini núcleo”, a qual se desenvolve e origina as fábricas virais, que, como o nome indica, produz de dezenas a milhares de novas cópias do vírus. Também se acredita que o mini núcleo esteja relacionado com a eficiência da replicação do genoma viral.

“A formação de novos vírus se inicia com partículas em formato de meia lua, denominadas “crescentes”, que são compostas por lipídios e proteínas virais. Esses crescentes virais, por sua vez, dão origem às demais variações morfológicas do vírus, à medida que ocorre a maturação das partículas durante processo biológico que determina a formação e a diferenciação dos componentes das células do MPOX, a morfogênese viral”, afirma a também autora Amanda Witt.

Segundo a pesquisadora, "as fábricas virais heterogêneas têm regiões distintas e aspecto fibrilar e granular. Ainda não se conhece as funções específicas, embora acredita-se que as regiões granulares concentram o conteúdo que compõe o cerne viral”, explica. “Além disso, há também um grande número de vesículas multimembranosas que podem estar relacionadas à autofagia, um processo importante no metabolismo celular, uma vez que por meio dele é mantido o equilíbrio celular”, esclarece. “Em resumo, esta pesquisa tanto ajuda a compreender a biologia da multiplicação dos vírus da chamada varíola dos macacos, como integra o conhecimento geral sobre as infecções causadas por poxvírus analisadas sob uma ótica in vitro e geram novas dúvidas – que podemos buscar responder em novos estudos”, conclui Amanda.

Também coautora, a coordenadora do Laboratório de Vírus e chefe do departamento de Microbiologia, professora Giliane Trindade, faz questão de destacar o apoio do Centro de Microscopia da UFMG e do Laboratório NB3 do ICB UFMG, além da estreita parceria com o Laboratório Central de Saúde Pública de Minas Gerais (Lacen Funed). “Este trabalho conjunto é de enorme relevância para garantir novos avanços nas pesquisas de ponta produzidas na UFMG e também para os gestores de saúde pública em nosso estado, uma vez que pesquisas assim promovem avanços nos diagnósticos virais”, comemora a pesquisadora.

A DOENÇA

A “varíola dos macacos” é causada por um vírus semelhante ao da varíola, que provoca uma infecção muito parecida com um caso gripal e erupções pelo corpo. Da mesma forma que ocorre com outros poxvírus, a doença pode ser mais grave em crianças pequenas e em pessoas com sistema imunológico comprometido. Sua gravidade depende da cepa envolvida. A menos grave registra taxas de mortalidade maiores em regiões mais pobres, e nesses casos chega a cerca de 1%. A outra cepa é fatal em cerca de 10% dos casos.

LEIA O ARTIGO

Ultrastructural analysis of monkeypox virus replication in Vero cells

Amanda Stephanie Arantes Witt, Giliane de Souza Trindade,Fernanda Gil de Souza, Mateus Sá Magalhães Serafim, Alana Vitor Barbosa da Costa, Marcos Vinícius Ferreira Silva, Felipe Campo de Melo Iani, Rodrigo Araújo Lima Rodrigues, Erna Geessien Kroon, Jônatas Santos Abrahão
https://onlinelibrary.wiley.com/share/author/3E3NRV8JKIXTNX3JCWYX?target=10.1002/jmv.28536

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