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lab nb3Espaço multiusuário do Instituto de Ciências Biológicas pode acelerar pesquisas com vírus, bactérias, fungos e outros agentes infecciosos

O Laboratório de Biossegurança Nível 3 (NB3) do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da UFMG entra em operação em fevereiro de 2022. Certificado pela Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio – Link http://ctnbio.mctic.gov.br/inicio), o NB3, ou laboratório de contenção, como também é chamado, destina-se a pesquisas com vírus, bactérias, fungos e outros microrganismos causadores de doenças transmitidas pelo ar.

Segundo o subcoordenador do NB3 ICB, professor Renato Santana (http://lattes.cnpq.br/3007026070361272), do departamento de Genética, Ecologia e Evolução, uma das principais características desse tipo de laboratório é “o sistema de exaustão, que envolve pressão negativa e filtração de todo o ar potencialmente contaminado no interior, de forma que nenhum microrganismo escape para o ambiente externo”.Esse sistema oferece o nível de segurança necessário para acelerar estudos com microrganismos com potencial de ameaça para a sociedade, como o SARS-CoV-2, vírus da família dos coronavírus, causador da covid-19.

lab nb3 bioterioBiotério do NB3 ICB UFMGCom área física de aproximadamente 100 m², além de uma sala principal e três laboratórios no mesmo espaço, o NB3 do ICB é o único de Minas Gerais que tem um biotério, espaço para manutenção de animais de experimentação. Esse diferencial é importante, especialmente num momento de enfrentamento do SARS-CoV-2. “Todos os projetos de vacina tem de ser desenvolvidos, primeiro em modelo animal. E os procedimentos necessários para isso precisam ser feitos usando um NB3”, explica Renato Santana, destacando que esta é a “primeira etapa do desenvolvimento de vacinas e antivirais para qualquer patógeno”.

O coordenador do NB3, professor Luís Henrique Franco, do departamento de Bioquímica e Imunologia, esclarece que ainda existem poucos laboratórios de contenção no Brasil. Em BH, a Fundação Ezequiel Dias (Funed) possui um similar. Quanto ao espaço físico, ele informa dispor automatização de portas, pressão negativa, vestiário e autoclave para descontaminação de resíduos gerados durante os experimentos.

Regulamentado pela CNTBio, que certifica seu funcionamento, a operação do NB3 é fiscalizada ainda pela Comissão de Biossegurança do ICB. Seguindo programas de boas práticas laboratoriais e de segurança, só pode trabalhar no local quem for aprovado em curso específico e usar dispositivos e equipamentos de proteção individual apropriados. Além disso, os cientistas serão supervisionados por especialistas em Microbiologia, com conhecimentos e experiência no manejo desse tipo de agente patogênico.

INVESTIMENTOS E USO COMPARTILHADO

Financiado com recursos da Finep, empresa pública brasileira de fomento à ciência, tecnologia e inovação, vinculada ao Ministério da Ciência e Tecnologia e Inovação, o NB3 contou com investimentos iniciais na casa de R$1,5 milhão. Sua estrutura física foi inaugurada em 2021, graças aos esforços das diretorias dos professores Tomaz Aroldo da Mota Santos e Andréa Mara Macedo, e dos professores Carlos Rosa e Élida Rabelo, à frente da atual gestão. “Com a pandemia e a necessidade de mais laboratórios do tipo para pesquisas relacionadas a vacinas para a covid-19, foi retomada a busca por financiamento, desta vez para aquisição de equipamentos e para o sistema de pressão negativa”, relata Luís Franco. Na fase final, foram investidos R$2,5 milhões, a partir do projeto do professor Mauro Martins Teixeira, do Departamento de Bioquímica e Imunologia, aprovado pela Finep.

“O principal desafio para o NB3 agora é sua manutenção”, afirma Renato Santana, segundo o qual o custo do laboratório deve girar em torno de R$150 mil por ano. Por isso, seu uso precisa ser cofinanciado por seus usuários, por meio de taxas que possibilitarão garantir a continuidade das operações a longo prazo.

HelmintoNíveis de biossegurançaGANHO PARA A SAÚDE PÚBLICA

Mais do que um ganho para a saúde pública, o laboratório NB3 é muito importante para qualquer universidade, avalia Renato Santana. Ele baseia sua avaliação no fato de que a possibilidade de conter ou evitar um acidente biológico durante as pesquisas pode levar a respostas mais rápidas e mais eficientes no desenvolvimento de vacinas e de medicamentos para doenças que matam muitas pessoas no mundo. “Hoje, com a covid-19, a gente vê que um laboratório com esse nível de segurança é extremamente necessário, mas ele foi concebido ainda no comecinho dos anos 2000”, lembra o professor Sérgio Costa Oliveira, idealizador e precursor do NB3. "Atualmente a UFMG tem várias iniciativas e projetos para teste de vacina contra covid-19. Não tem como avançar nossas pesquisas sem fazer ensaios-desafio com o vírus fora de um laboratório NB3”, afirma. Segundo o médico veterinário, os pesquisadores mineiros precisam pagar por estruturas, grande parte das vezes em outras cidades ou estados, e isso onera e atrasa o avanço do estudo.

O mesmo destaca o professor Santana. “Uma vez que nossa sociedade está sempre sofrendo com patógenos emergentes e de difícil isolamento, como os que causam dengue, zika, chikungunya, ou a tuberculose, - ter uma estrutura como esta permite que estejamos preparados para lidar com doenças emergentes, não só no isolamento e identificação da doença, mas também para combatê-las”, comemora o cientista.

NÍVEIS DE BIOSSEGURANÇA

Os níveis de biossegurança vão de 1 a 4. Os dois primeiros estão relacionados a microrganismos não transmissíveis pelo ar. Já o 3 e o 4, relacionam-se aos que são dispersos por vias aéreas. A diferença é que no nível 3 não há risco para o pesquisador respirar o ar do ambiente, pois a amostra clínica em estudo é aberta dentro de um fluxo laminar que o protege de recebê-lo durante o trabalho. Já no nível máximo, o 4, o pesquisador não pode respirar o mesmo ar do ambiente, pois os microrganismos em estudo são muito mais letais e facilmente transmissíveis por vias aéreas. Um exemplo é o vírus ebola.

COMO AGENDAR O USO
O acesso ao NB3 ICB está disponível a todos os pesquisadores habilitados, da UFMG e de outros institutos de ensino e pesquisa, mediante cumprimento de uma série de etapas e compromissos. O primeiro passo, no entanto, é submeter o projeto de pesquisa à comissão gestora. Se aprovado, toda a equipe será treinada e os aprovados serão autorizados a agendar seus horários de uso.

 

SOLICITAR ACESSO: https://sites.google.com/view/laboratorio-nb3-icb

INFORMAÇÕES: Centro de Laboratórios Multiusuários do ICB (Celam) https://www2.icb.ufmg.br/celam/index.php/2-uncategorised/31-laboratorio-de-biosseguranca-nb3

prof Sergio CostaProfessor Sérgio Costa, idealizador do Laboratório NB3 ICB UFMGSONHO ANTIGO

A história do Laboratório de Biossegurança Nível 3 do ICB começou ainda quando o professor Sérgio Costa Oliveira era vice-diretor do Instituto (2006 - 2010). A ideia inicial era a formação, em um mesmo espaço, de vários laboratórios de uso comum da Comunidade do ICB, dando suporte a pesquisadores do instituto e de outras unidades acadêmicas. Era lançado, então, o Centro de Laboratórios Multiusuários (CELAM) do ICB UFMG.

“Eu já vislumbrava a possibilidade de termos necessidade de um laboratório de contenção de nível 3, em função de epidemias e pandemias que poderiam aparecer no futuro”, lembra o professor titular do Departamento de Bioquímica e Imunologia do ICB UFMG: “Entendi que também já era hora de termos um NB3. A partir de então, comecei a montagem da planta e também fui em busca de recursos”.

Apesar de lamentar que, durante a pandemia, o laboratório não estivesse funcionando e que vários projetos relacionados à covid-19 poderiam estar se valendo dele, Sérgio Costa se declara muito feliz com a implantação da nova estrutura, com diversos equipamentos, mesmo tardiamente. Para ele, a existência de serviços, ou facilities, como essa, em instituições públicas, podem levar a soluções dirigidas à sociedade e podem ajudar a salvar vidas, não só em Minas Gerais, mas em todo o Brasil e no mundo.

 



Redação: Dayse Lacerda e Marcus Vinicius dos Santos.

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