Artigo inédito orientado pela professora Diana Bahia, do Departamento de Biologia Geral do ICB, pode representar uma nova forma de combater a doença de Chagas
O estudo, publicado na Scientific Reports, uma das revistas da Nature, mostra que, no que se refere à caracterização de uma enzima, a mevalonato quinase não deveria ser secretada pelo parasita Trypanosoma cruzi. Mas, é. Ao contrário do que era esperado a partir da teoria.
Esta proteína, especializada em catalisar reações biológicas e que participa da síntese do colesterol, também promove outras ações, que nada tem a ver com as funções classicamente descritas sobre a célula hospedeira.
Duas delas chamaram a atenção dos pesquisadores, em especial o fato de ela “modular a invasão do parasita na célula” e também de “ativar a fosforilação” (adição de um grupo fosfato a uma proteína de modo a ativar ou reprimir a função desta proteína).
A mevalonato quinase apresenta uma segunda função inusitada. Este tipo de proteína, que já foi descrita na literatura para outros organismos, é denominada "moolighting protein", que numa tradução literal seria algo como "segundo trabalho, na calada da noite, diferente do cotidiano". Ou uma função "clandestina".
De acordo com a professora Diana Bahia, o trabalho é fruto da dissertação de Éden Ramalho Araujo Ferreira, da Universidade Federal de São Paulo, primeiro autor do artigo, e apresenta "o ponto de vista do parasita”. “Os dois agentes, parasita e hospedeiro, são responsáveis por esta interação acontecer e perdurar”, conclui.
Invasão celular
Em outro trabalho, de 2015, resultante da dissertação de Alexis de Sá Ribeiro do Bonfim de Melo, publicado na Cellular Microbiology, o grupo de pesquisa também analisou a invasão celular do Trypanosoma cruzi, desta vez “sob o ponto de vista da célula”.
Eles descobriram que, para invadir a célula, o parasita explora uma nova via de sinalização. Ou seja, o parasita altera a forma como as moléculas se comunicam umas com as outras e, a partir desta comunicação, passa a estabelecer uma relação com a célula, influenciando em algumas funções.
Para isso, ele usa “gente de dentro”, envolvendo a participação de moléculas da própria célula, numa espécie de “sequestro”.
Ambos os trabalhos reforçam que a invasão por T. cruzi, ou por outros patógenos intracelulares, envolve tanto fatores do parasita como da célula, para o estabelecimento e manutenção da infecção.
“Conhecer melhor a interferência destes mecanismos de comunicação parasito-hospedeiro, que é complexa, poderia ser uma estratégia para combater a doença de Chagas e outras doenças causadas por patógenos intracelulares, como é o caso do Trypanosoma cruzi”, considera Diana, que continua as pesquisas.
1) Unique behavior of Trypanosoma cruzi mevalonate kinase: A conserved glycosomal enzyme involved in host cell invasion and signaling.
Ferreira ÉR, Horjales E, Bonfim-Melo A, Cortez C, da Silva CV, De Groote M, Sobreira TJ, Cruz MC, Lima FM, Cordero EM, Yoshida N, da Silveira JF, Mortara RA, Bahia D. Sci Rep. 2016 Apr 26;6:24610. doi: 10.1038/srep24610.
2) Trypanosoma cruzi extracellular amastigotes trigger the protein kinase D1-cortactin-actin pathway during cell invasion.
Bonfim-Melo A, Zanetti BF, Ferreira ÉR, Vandoninck S, Han SW, Van Lint J, Mortara RA, Bahia D. Cell Microbiol. 2015 Dec;17(12):1797-810. doi: 10.1111/cmi.12472.
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