Revista de Psicofisiologia, 3(2), 2000

Estresse, aspectos sociais e biopsicológicos

3.3) Melancolia, estresse e velhice versus adaptação à vida

 A melancolia é sintomática no caso de baixa estima e introduz idéias perturbadoras, como no caso da ansiedade, invadindo nosso estado de espírito. Ocorre geralmente após uma perda afetiva e tem um lado
positivo já que impõe uma espécie de retiro reflexivo das atividades da vida. 

É muito comparada ao luto e à depressão, onde a vida fica literalmente paralisada. A doença se manifesta através de um grande senso de inutilidade, ausência de alegria, confusão e lapso de memória. Temos também como sintoma a insônia, apatia, agitação nervosa, perda do prazer de comer, desaparecimento da esperança, desespero, sendo descrito como uma dor tão grande, que pode levar ao suicídio. Como nos outros casos, a distração é a solução, lembrando que tal emoção passa com o tempo. 

Em suma, o estressado fica com o sistema de defesa do organismo enfraquecido, portanto mais propenso a sofrer melancolia. Ficar atentos à alimentação e às nossas emoções mantem um certo equilíbrio na nossa saúde física e mental. Devemos praticar esportes, deixar de lado os problemas do trabalho no próprio local, evitar situações que nos deixem nervosos e cultivar o hábito de ter tempo para si mesmo. 

O fato de não vermos, não torna o estresse menos real. É a soma de todo o desgaste causado por qualquer tipo de reação vital, através do corpo, a qualquer momento. O estresse atua como denominador comum de todas as alterações biológicas que se processam no corpo. Sendo assim, o verdadeiro envelhecimento fisiológico é determinado pelo desgaste a que o corpo tem sido exposto. A melancolia não escolhe idade, podendo atingir crianças e idosos. 

Um homem pode ser muito mais senil aos 40 anos, física e mentalmente, que outro aos 60 anos. Isso dependerá do seu grau de desgaste ou inatividade. Não é verdade que a vida é essencialmente um processo
que gradualmente se perde, a partir de uma certa quantidade de energia de adaptação, que herdamos. Nem a vitalidade é como se fosse um tipo especial de depósito bancário, que seu único controle sobre essa fortuna é o ritmo com que você faz as retiradas. Sabe-se que a atividade revitaliza as pessoas a partir do cérebro, sem contar com as recuperações genéticas de certas doenças, que se prenunciam como a de Alzheimer, Parkinson etc, que poderão levar o homem a viver mais de 200 anos. 

Mas, as experiências de atividades, que resultam em grande estresse, deixam cicatrizes que podem não se apagar, se a demanda de reservas de adaptabilidade não se restabelecerem. O repouso não repõe estas demandas, a não ser, quando se trata de uma fadiga aguda. Após experiências exaustivas, os constantes períodos de estresse e repouso, através de toda a vida, acarreta pequenos defeitos de energia de adaptação que vão sendo acumulados dia a dia. Uma proporção sempre crescente de seres humanos é vítima das denominadas doenças de desgaste, que são basicamente originadas pelo estresse. 

Na verdade, o homem quase nunca morre de velhice, ou seja, morrer quando todos os órgãos do corpo teriam sido proporcionalmente gastos, meramente pelo fato de terem sido usados por muito tempo. Ao contrário, morrem porque uma parte vital do corpo foi gasta prematuramente em relação ao resto do corpo.
Segundo Selye (1965), devemos então, equalizar o estresse em todo o ser, não sobrecarregar partes específicas do organismo, mas fazer uma freqüente transferência do trabalho de uma parte para outra.  O indivíduo tem determinada bagagem genética, porém, as demandas feitas pelo meio externo exercem forte influência, especialmente resultantes do estresse ao qual sua adaptabilidade é exposta durante todo o curso da vida. As demandas da vida contemporânea impõe constantemente: tensões mentais, frustrações, sentimentos de insegurança e muitas vezes a falta de objetivos. Estes fatores estão entre os mais importantes desencadeadores de estresse. Faz-se necessário uma maior compreensão social a respeito de formas de conduta que possam melhorar a vida dos indivíduos. 

A vida é então um constante dar e vir e como Selye nos afirma: é especialmente um processo de adaptação às circunstâncias em que subsistimos. O segredo, da saúde e da felicidade, reside no ajustamento e participação bem sucedida às condições deste mundo, perpetuamente em processo de modificação.