Revista de Psicofisiologia, 3(2), 2000

Estresse, aspectos sociais e biopsicológicos

2.4) Solução de conflitos no cotidiano

  1. Secreção de hormônio é inevitável, sem obedecer ao racional 

    Em estado de tensão, nossas glândulas supra-renais produzem em excesso catecolaminas que podem causar uma excitação inicial, o conhecido SAG, que é seguida por uma fase secundária de resistência, em que o equilíbrio precário é mantido. Nesta escalada segue-se a fase de exaustão quando se liberam corticóides. Os três efeitos podem ser de grande valor prático para o corpo: é necessário estar preparado para adotar rapidamente medidas de defesa, mas é igualmente importante administrar as fases de resistência ou exaustão, para evitar danos de prosseguir em regime de tensão. 

    O estresse estimula nossas glândulas a produzir certos tipos de hormônios, que podem induzir uma certa embriaguez e intoxicação, pela excitação produzida. É necessário maior conhecimento para detectar nosso estado e poder superá-lo. Em todas as nossas ações, no decorrer do dia, devemos verificar, conscientemente, se estamos ou não muito tensos. Verificar o nosso nível crítico de estresse é tão importante quanto testar a nossa quota crítica de bebida. A intoxicação pelo estresse é inevitável, pode-se deixar de beber, mas é impossível evitar o estresse enquanto se viver, e nossos pensamentos conscientes não podem medir os seus sinais de alarme. 

  2. Uma completa inatividade não combate o estresse, é preciso tomar a iniciativa 

    Todas as pessoas em atividade demandam mais ou menos repouso, de acordo com as suas características. Todas as reações do corpo são governadas por leis e limitações biológicas. A maneira mais simples de compreendê-los é examinando a forma pela qual afetam as reações de tecidos. Por outro lado, a inatividade, comum não só entre os aposentados, é um mal da modernidade pelo aumento do sedentarismo, onde homens úteis tem-se tornado fisicamente doentes e prematuramente senis, pela obrigatoriedade de uma inatividade em idade em que sua capacidade e condições de atividade são ainda ponderáveis. 

    Como combater o estresse, em uma pessoa ativa é citado na Monografia: Reações autonômicas e hormonais das perturbações psicossomáticas (Revista de Psicofisiologia, 2(1), 1998), pelos seguintes passos: 

    1. Compartilhe seus problemas com amigos; 2. Afaste-se da situação estressora. Procure compreender o problema. Então volte a encará-lo para resolvê-lo; 3. Não reprima seus sentimentos. Solte-os no momento e local apropriado; 4. Faça exercícios físicos regularmente; 5. Agende seus compromissos para fazê-los com tranqüilidade e eficiência; 6. Faça algo pelo próximo, sinta-se útil; 7. Saiba identificar realmente as prioridades de enfrentamento; 8. Seja realista e estabeleça expectativas de acordo com suas possibilidades; 9. Não se afaste das pessoas quando estiver estressado. Você poderá contar com ajuda delas; 10. Não "rumine" os "sentimentos negativos". Procure substituí-los por sentimentos prazerosos. 

  3. Como enfrentar o estresse e a importância da diversão 

    Parte alguma do corpo não deve ser sobrecarregada desproporcionalmente, durante longos períodos. Qualquer parte sujeita ao estresse envia sinais de alarme, para o estabelecimento de uma resistência coordenada. Pela mesma razão, qualquer reação intensa em determinada parte pode influenciar todo o organismo, desequilibrando vários tipos de atividades biológicas em outras partes do mesmo corpo.  Os fatos provados em experiências de laboratório aplicam-se também às atividades diárias do homem, inclusive às sua atividades puramente mentais. Sentindo e analisando nosso estado de estresse devemos sempre considerar não somente a extensão total do estresse no corpo, mas também sua distribuição proporcional entre as várias partes. Se não há proporcionalidade, se há estresse em excesso em qualquer parte, você necessita de diversão, de repousar. 

    Diversão é o ato de desviar qualquer coisa, um mecanismo biológico, por exemplo, de seu curso natural. Quando a concentração de esforço em qualquer parte do corpo ou na mente não é muito intensa ou crônica, certas diversões moderadas, podem ser eficazes, por exemplo: esportes, dança, música, leitura, viagem, álcool, goma de mascar etc. Estas não atuam basicamente através do mecanismo do estresse e do eixo pituitária-supra-renais, mas promovem a desconcentração de nossos esforços, que sempre nos auxilia a restabelecer o equilíbrio, reduzindo a taxa do estresse. 

    A diversão é especialmente importante no combate ao estressepuramente mental. Os registros de medicina psicossomática estão repletos de estudos descrevendo a produção de úlceras gástricas, hipertensão, artritismo e toda a sorte de males, pela preocupação crônica em relação a problemas de ordem moral ou econômica. Nada afasta tão eficazmente pensamentos desagradáveis quanto a concentração em pensamentos agradáveis. 

    Outro importante aspecto da diversão é o desvio da competição entre a memória e a capacidade de apreensão. Tentar lembrar muitas coisas é certamente uma das causas principais do estresse psicológico. 

    A grande arte é a de manifestar nossa vitalidade através de canais especiais e no ritmo especial que a natureza nos estabeleceu. A diversão, e não o repouso completo, pode ser a melhor solução para uma pessoa que se sente geralmente exausta, embora tenha sobrecarregado temporariamente apenas um dos canais da auto-expressão ou atividade. Em alguns desses casos, paradoxalmente, até mesmo o estresse geral, como por exemplo terapia de choque, ou trabalho extenuante, podem facilitar a equalização e a descentralização de atividades que se tenham tornado habitualmente concentradas em uma parte de nosso ser. 

    Se nos empenharmos excessivamente, o problema será de estresse geral excessivo. Nesse caso, a única coisa a fazer é repousar. Essa situação não pode ser resolvida mais por diversão ou mais estresse. Aqui, o grande remédio é aprender como apreciar o lazer e como dormir bem. 

  4. Como dormir bem 

    Uma atividade cansativa que termina definitivamente, prepara para o repouso e o sono. Mas, aquela que estabelece tensão contínua, nos manterá acordados, porque exaure também os mediadores químicos do sono: serotonina e noradrenalina. A fadiga do trabalho prepara para o sono, pois relaxa; mas, durante a noite, devemos tomar precauções para não sermos acordados pelo estresse. É durante todo o dia que você deve preparar os seus sonhos; senão você sofrerá de insônia. O fato de dormir ou não dependerá muito do que tenha feito durante o dia, mas como o realizamos.  

    Lembramos a síntese das recomendações para bem dormir segundo a neurociência, resumidas em Perguntas e Repostas da Home Page do Laboratório de Psicofisiologia: 

    A) Durante o dia: não tire sonecas durante o dia, faça exercícios físicos diários, conserve o bom humor, quando usar estimulantes seja moderado, não pense sobre a noite mal dormida e busque solução de problemas;  

    B) Antes de deitar: desacelere uma ou duas horas antes de deitar e procure relaxar, vá para a cama à mesma hora, cuide que a temperatura da cama seja agradável, fique em silêncio ou ouça música relaxante e em nível suave, não fixe em preocupações ou em conversas difíceis, não force dormir sem sono, pense nas coisa agradáveis e tranqüilas evitando emoções fortes, escolhas roupas macias para dormir; 

    C) Ao deitar-se: vá progressivamente se desligando, respire progressivamente e solte-se, escureça o quarto, procure a melhor posição, pense em descansar e deixar para amanhã os problemas; 

    D) No geral: não se estresse demais, não trabalhe demais, beba, coma e exercite moderadamente, evite ou cure a depressão, mantenha relações sexuais.