2.2) A dupla origem do medo ou da raiva: fisiológica e social
As respostas emocionais preparam o organismo para enfrentar as situações ameaçadoras. Um animal
exibe apenas duas emoções principais: cólera ou medo. Mas o homem pode experimentar três: raiva dirigida
para fora (o que eqüivale à cólera), raiva dirigida para si mesmo (depressão) e ansiedade (motivação
punida)
ou medo. Existe uma conexão entre as emoções e certas modificações fisiológicas no corpo. A raiva e o
medo produzem reações fisiológicas diferentes e diferenciadas entre si. Neste novo contexto, o medo seria
conseqüência de uma exposição excessiva à agressão, originária da raiva inicial, que se esgota no vazio, se
não se exercer logo. Os resultados de diversos experimentos sugeriram que a raiva dirigida para fora está
associada à secreção de noradrenalina, enquanto a depressão e a ansiedade associam-se à secreção de
adrenalina (Funkestein, 1969).
A noradrenalina estimula a contração de pequenos vasos sangüíneos da pele, aumentando a resistência
ao fluxo de sangue e a pressão arterial, e pode desencadear o infarto. Por isso o indivíduo se torna pálido.
Este mecanismo tem valor adaptativo, quando o indivíduo impulsionado pela raiva no ataque, venha a ter a
perder sangue no caso de haver algum ferimento cutâneo. Paralelamente há aumenta do fluxo sangüíneo no
coração e nos músculos, o que contribui para disponibilizar mais força nos músculos no caso de
enfrentamento. Por outro lado, a ação da adrenalina promove exatamente o contrário: a dilatação dos vasos
sangüíneos periféricos e o conseqüente aumento do fluxo de sangue na periferia, não restando opção a não
ser o processo de fuga por falta de condições de enfrentamento muscular. É comum relatos de que as
pernas
falharam na hora certa.
As experiências da infância determinam em grande parte como o homem reagirá sob tensão. Assim, as
reações emocionais habituais dos indivíduos possuem uma alta correlação com suas percepções de fatores
psicológicos em suas famílias. Dentro deste contexto, pessoas que crescem em um meio tenso têm grandes
possibilidades de desenvolverem respostas semelhantes, tornando-se também estressados, medrosos. O
desenvolvimento fisiológico da criança é paralelo ao seu desenvolvimento psicológico, e a relação de
noradrenalina para adrenalina é mais alta em crianças mais novas que em crianças mais velhas, que em geral
sofrem mais ameaças. Quanto mais nova a criança, menos respostas de medo ela apresenta (Funkestein,
1969).
É importante salientar que senilidade não eqüivale à velhice. Muitas pessoas jovens, inclusive crianças,
podem ser consideradas senis, já que se comportam como tais, apresentando até mesmo mais resposta de
medo do que de raiva. E o estresse pode contribuir para que esta situação se agrave, uma vez que constitui
um comportamento aprendido, que, sob ameaça permanente, resulta em perda de capacidade de reação. A
freqüência elevada de agressão não permite que a adrenalina seja convertida em noradrenalina, o que
aumenta a ocorrência de respostas de medo.
Por outro lado, a ocorrência do estresse leve pode ser benéfica ao indivíduo, e constitui um importante
mecanismo para a defesa do organismo, pois este estado o prepara para o ataque ou para a fuga,
beneficiando a sobrevivência e leva à atenção redobrada. Nos níveis baixos de agressão, quando os
indivíduos acumularam poucas reações de ataque, predomina a secreção de noradrenalina, e ocorre um
aumento de atenção e menos erros. Quando não existia antibióticos, tratava-se a sífilis, infectando o
paciente
com malária, que provocava a reação do SVS. Mais antigamente, abordavam certas doenças por sangria
pela mesma razão. Mas, George Washington, primeiro presidente dos EUA, não resistiu tantas sangrias em
tão pouco tempo para tratar de uma dor de garganta e veio a falecer em poucas horas.
As condições de vida do mundo moderno favorecem o permanente estado de alerta do organismo,
exaurindo as secreções de noradrenalina e, abortando a reação de síntese no seu precursor, a adrenalina,
motivando medo, depressões e fugas. Dessa forma, o grau de estresse pode ser medido através das
quantidades de noradrenalina e de adrenalina circulantes no sangue, tornando o homem moderno cada vez
mais passivo.
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