2) REAÇÕES BIOLÓGICAS
Quando se enfoca o organismo e suas reações adaptativas que visam restabelecer o equilíbrio interno,
temos a concepção biológica do estresse.
2.1) Estresse e doença de adaptação
A adaptação ao estímulo agressivo ocorre em três fases: a primeira consiste na reação de alarme. O
sistema visceral simpático (SVS) é ativado a todo e qualquer estímulo aversivo. No entanto, quando essa
estimulação é repetitiva ou constante, a ativação do SVS torna-se prejudicial ao organismo, uma vez que
não
permite o relaxamento e o retorno ao equilíbrio das vísceras, correspondendo a uma exaustão continuada, que
pode até ser lenta, quase imperceptível.
Mas, a ação do SVS pode ser generalizada e súbita, conhecida pelo nome de síndrome de "Cannon",
podendo se instalar um pânico, bastante desequilibrador, diante de um recrutamento maciço das vísceras
catabolizantes, que preparam o organismo para o ataque e a defesa.
A reação simpática, seguida de hormônios inflamatórios, corticosteroides, por exemplo a
desoxicorticosterona, conhecida DOC, faz-se por aumento da freqüência e pressão arterial cardíacas e
respiratório e dilatação dos brônquios, permitindo maior circulação de sangue, levando mais oxigênio e
nutrientes nos tecidos; contração do baço, mais glóbulos vermelhos no sangue; liberação de glicose pelo
fígado na corrente sangüínea, dando mais energia para os músculos e cérebro; maior dilatação pupilar,
aumentando o campo de visão; aumento de linfócitos no sangue, para reparar possíveis danos físicos e
atacar
agentes agressores. Em níveis altos de ativação do SVS há perda da resistência imunológica, tornando-se
mais vulnerável às doenças, perda de tecidos estruturais, como massas musculares e ósseas, tornando-as
vulneráveis, etc. Estas duas últimas reações são desencadeadas por descargas da medula da supra-renal
secretando hormônios corticosteroides. A noradrenalina, num primeiro instante, prepara para o ataque, e
quando se passa a liberar a adrenalina, num segundo instante, já está em fase de desencadear a fuga, e
quando chega a vez de secretar o cortisol, que é anti-inflamatório, inibidor imunológico etc, começa-se a
exaustão.
Tudo começa com ativação do eixo hipotalâmico-hipófise-supra-renal que desencadeia respostas
hormonais, consideradas lentas, para adaptação do organismo ao estresse. O estímulo agudo determina a
secreção de hormônio corticotropina ao nível do hipotálamo, causando liberação dos hormônios da glândula
supra-renal, que agem de volta inibindo o hipotálamo. Estabelece-se então, um mecanismo de feedback
negativo das catecolaminas e dos glicocorticóides, atuando sobre o eixo hipotalâmico-hipofisário, para
restabelecer o equilíbrio, tão logo cesse a ameaça.
Mas, se a freqüência de agressão continua aumentando, ao chegar na base de uma a cada 5 minutos, a
escalada continua sem cessar, o organismo mantém seu esforço de adaptação permanentemente. Entra-se
em uma segunda fase, a fase de resistência, que se caracteriza pela reação de hiperatividade
córtico-supra-renal, sob mediação diencéfalo-hipofisária. Há uma atividade continuada do córtex
supra-renal,
que pode deslocar o equilíbrio, causando atrofias do baço, do tecido linfóide e de estruturas linfáticas,
queda
de hormônios de defesa imunológicas, ulcerações e aumento das alergias.
Se os estímulos estressores continuarem agir por muito tempo, a resposta se mantém, mas há uma
diminuição da intensidade das respostas, por fadiga. Pode haver falha nos mecanismos de defesa e aí
desencadeia-se a terceira fase, a fase de exaustão, acirrando-se a fase de alarme, dificuldade na
manutenção dos mecanismos adaptativos, perda de reservas etc, podendo levar à morte.
Tanto na reação prolongada ao agressor, ou quando muito intensa, há maior predisposição ao
desenvolvimento da doença. As reações de estresse resultam, portanto, em esforços de adaptação. Essas
doenças são conseqüências do excesso de hostilidade ou do excesso de reações de submissão, que vão
além de um simples esforço de adaptação, causando úlceras digestivas, doenças renais, perturbações
sexuais etc.
O tipo de desgaste à que as pessoas estão submetidas permanentemente nos ambientes e as relações
com o trabalho são fatores determinantes de doenças. Os agentes estressores psicossociais são tão
potentes quanto os microorganismos e a insalubridade no desencadeamento de doenças. Tanto o
operário,
como o executivo, podem apresentar alterações diante dos agentes estressores psicossociais
(Cortez-Maghelly,1991; Rodrigues e Gasparini, 1992). Daí se explica a considerável melhora do tratamento
psicossomático, associado ao tratamento alopático convencional, em casos como o de câncer (Simonton et
al, 1987).
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