Revista de Psicofisiologia, 3(2), 2000

Estresse, aspectos sociais e biopsicológicos

1) Considerações sobre o estresse 

A sensação de estresse pode ser aquela impressão que às vezes temos de nervosismo, irritação, agitação, fadiga ou doença. É nítida sua presença quando sentimos e experimentamos desgaste e cansaço cronicamente. 

O estresse não é necessariamente uma alteração mórbida; a vida diária não implica necessariamente em um desgaste na maquinaria do corpo. A mãe que se preocupa com o filho, o jogador de futebol que luta por um gol, o torcedor que se agita na arquibancada, o mendigo que perambula para matar a fome, o aluno que enfrenta provas, o pequeno e o médio comerciante que tentam sobreviver em um mercado competitivo, a criança curiosa que se queima no fogo, o rapaz ousado que se fere numa briga; todos estão sob estresse, uns mais, outros menos. 

Há quase 50 anos atrás descobriu-se que o estresse produz certas modificações na estrutura e na composição química do corpo. Algumas delas são reações de adaptação do corpo, seu mecanismo de defesa contra o ataque, outras apresentam sintomas de lesão no organismo. Em que se diferem? 

O homem, quando se sente ameaçado ou em perigo, desenvolve uma série de reações cognitivas, sensório-perceptivas e neurovegetativas como mecanismos de proteção, que o prepara para a luta ou para a fuga. O estresse aí é natural e, de uma certa forma, pode contribuir para a preservação da vida, se o equilíbrio for restaurado logo. 

Por outro lado, o homem hoje se encontra cada vez mais exposto a estímulos complexos, impostos pela forma de organização da sociedade atual. Ao mesmo tempo, aparecem, como por exemplo, o uso de estimuladores, o cigarro e o barulho; a ocorrência de ameaçadores e de punitivos, como a competição, a ameaça do desemprego, a busca desenfreada por produtividade, de inovação tecnológica e da violência, ultrapassando o limite do aceitável. Assim o estresse torna-se cada vez mais permanente, aumentando sua
intensidade e freqüência; conseqüentemente, o organismo pode se enfraquecer persistentemente, podendo até entrar em colapso. É a cronificação do estresse. 

O estresse é conceituado na ciência como o grau de desgaste do corpo em função da adaptação necessária para reagir àquele meio. O conjunto de modificações na estrutura e na composição química do corpo denomina-se síndrome de adaptação geral (SAG) ou síndrome do estresse. Ela se desenvolve em três fases: reação de alarme; fase de resistência; fase de exaustão. 

Partindo da conceituação de estresse como sendo um processo resultante do desequilíbrio dinâmico entre pessoa e meio ambiente, objetivando caracterizar fatores pessoais e situacionais que predispõem sua potencialização. SAMULSKI (1996) estuda o estresse em três concepções. Contudo, é importante salientar
que esta divisão, que veremos a seguir, é esquemática, pois os processos biológicos, psicológicos e sociais
apresentam uma interação recíproca.