Revista de Psicofisiologia, 3(1), 1999

O estresse forte e o desgaste geral

5.4 Câncer

    O câncer é causado por um erro genético. A todo momento, o corpo humano produz células defeituosas. No organismo sadio, elas são destruídas por proteínas que combatem os tumores. O câncer só vinga quando um erro na estrutura do RNA impede a síntese das proteínas defensoras. Na ausência dessa barreira natural, as células cancerosas se multiplicam em velocidade assustadora, muito superior à do restante das células do organismo. Se nada for feito contra o avanço da doença, as células cancerosas criam uma rede de vasos sangüíneos para garantir a própria nutrição. O tumor expande-se, num processo chamado metástase. As células doentes se espalham pelas veias e vasos linfáticos, contaminando órgãos e tecidos vizinhos. Fixam-se nos ossos e vísceras, como pulmões e fígado.

    No câncer há um colapso da imunidade e resistência do organismo. O fato dos tumores crescerem ou não está relacionado com a eficiência dos processos de imunidade. Assim, se o sistema imunológico encontra-se "desequilibrado", a probabilidade do desenvolvimento da doença aumenta. Como o sistema imunológico é também controlado pelo sistema límbico, podemos acreditar que o paciente com câncer apresenta todo um conjunto de elementos psicossomáticos.

     Três pesquisadores, o casal Simonton e Creighton (1987) constataram que o lado psicológico da doença é tão importante quanto o físico e o biológico. Schmale e lker estudaram um grupo de 40 mulheres sem sintomas, mas com teste de Papanicolau denotando predisposição ao câncer. Tentaram prever as que desenvolveriam a doença, com base em entrevistas e testes de personalidade. Previram que o câncer de colo de útero iria ocorrer naquelas em que detectaram fortes sentimentos de desesperança ao longo da vida e/ou como reação a perdas recentes e significativas. Acertaram em cerca de 75% dos casos. Supõe-se que o câncer de mama tem a ver com a vivência, pela mulher, de relações conjugais empobrecidas e insatisfatórias (Simonton et al, 1987). Silva (1994) confirma, com base em vários trabalhos científicos, que há uma clara relação entre a eclosão do câncer e situações de perda, levando à depressão.

    O perfil psicológico do paciente também é importante quando consideramos a evolução da doença. Mesmo aqueles que negam a importância do "psiquismo" no desencadear do câncer concordam que sua evolução seja influenciada pela personalidade do doente, sua maior ou menor resistência psíquica e ainda por sua maior ou menor disposição de lutar pela vida. Aqueles que renunciam e se entregam evoluem mal e morrem logo. Os que têm atitudes positivas, força de vontade e objetivos na vida, evoluem melhor, vivem mais e podem até curar-se. Ou, mesmo que venham a morrer, o período entre o conhecimento da doença e sua morte será não só maior como também melhor, em termos de bem-estar e qualidade de vida.