Revista de Psicofisiologia, 3(1), 1999

O estresse forte e o desgaste geral

5.5) Úlceras gastroduodenais

    Por úlcera entende-se uma inflamação ou lesão de alguma superfície da mucosa gastroduodenal da superfície do estômago e do duodeno. Sabe-se que as manifestações emocionais atacam sobretudo o sistema gastrointestinal. A maioria das pessoas reconhecem, por uma intuição clínica remota, a existência de concomitantes psíquicos, que parecem indicar a influência, em seu aparecimento ou agravação de problemas, conflitos e dificuldades emocionais, de várias ordens, inclusive situações vitais penosas e prolongadas, definidoras do que hoje se entende por estresse. Entre estas causas as úlceras gastroduodenais ocupam lugar de honra.

    Para desenvolver-se uma úlcera, três fatores devem confluir: secreção exagerada de suco gástrico (fatores genéticos e hereditários influem aqui); perfil psicológico propício; e a ocorrência de episódio gerador de intensa frustração, que corresponderia ao desencadear da úlcera. Como ponto central do lado psicológico haveria uma frustração oral, que tornaria a personalidade carente de afeto e sujeito à dependência.

    No estômago normal digere-se a carne ingerida, mas o suco gástrico não digere o próprio órgão, porque ocorre um processo inflamatório no tecido gástrico, que forma uma barreira de proteção, ´s vezesem forma de cápsulas, contra a digestão gástrica do próprio órgão. O que vai produzir a úlcera é o excesso de acidez que o cérebro manda o estômago produzir durante a alimentação, quando encontra baixa resistência da parede visceral devido à falta de muco, inibido pelo estresse, por falta de ação do parassimpático. Assim, o estresse, via hormônios de adaptação intermediários, reduz a resistência da barreira inflamatória e intensifica a influência agressiva dos sucos gástricos. Outras doenças digestivas, como a colite ulcerativa, são também influenciadas pelo estresse.

    As úlceras são doenças do mundo moderno, civilizado. Ela ataca homens e mulheres do mundo todo. Porém, hoje pode-se notar também o aumento de úlceras em crianças por causa de sua entrada mais cedo na escola ou creche onde há um ambiente competitivo, o que acarreta tensão emocional e sentimentos como medo de rejeição nas crianças.

    Observa-se úlceras com maior freqüência em pessoas desajustadas no trabalho e sofredoras de tensão e frustração constantes. Geralmente as pessoas tendem a explicar a úlcera no homem "bem-sucedido" e ocupado pelos problemas encontrados no trabalho. Na verdade, talvez, o raciocínio correto seja o inverso: o indivíduo seria bem-sucedido justamente por ter o perfil psicológico do ulceroso: ambicioso e realizador no plano social e perturbado no seu ritmo biológico.

    Embora, nem todos os ulcerosos vão buscar no sucesso exterior a compensação para a carência interior, quatro tipos de personalidade se destacam entre os ulcerosos: o tipo I, hiperativo-competitivo, teria tendências ativas e seria o "vencedor", "mandão", líder e chefe. O tipo II, o compensado, é geralmente ativo profissionalmente e passivo em casa, ou vice-versa, é o tipo mais favorável e adaptado socialmente. O tipo lll, o alternante, é socialmente instável e alterna entre a passividade e a atividade. O tipo lV, ou dependente, é o tipo mais desfavorável e inadaptado socialmente, geralmente precisa ser operado e possui tendências passivas.

    Entretanto, todos os quatro tipos teriam como característica comum e básica, a falta de controle emocional: carinhos, cuidados e afetos e a incapacidade de expressá-la, bem como a agressividade daí decorrente (Goleman, 1995). Daí a metáfora de que: "fechariam então a boca, isto é, não comunicariam suas necessidades e "abririam" o estômago para a ferida (úlcera). Para finalizar, é interessante ressaltar a melhora que os estados depressivos trazem à úlcera. Durante a depressão, o indivíduo, exteriorizando a tristeza interior, não precisa mais engoli-la e, conseqüentemente, ferir seu estômago.

    Só para citar, outros distúrbios gastrointestinais de origem emocional, além da úlcera: falta de apetite (anorexia); apetite exagerado (bulimia); náuseas e vômitos; dificuldade de engolir (disfagia); "gases" (aerofagia e aerocolia); "bolo" na garganta ou no estômago; dores abdominais diversas; dispepsias ou "males de fígado"; diarréia; constipação intestinal; gastrite; enterites; colites.

    Não se deve esquecer também que pesquisas recentes descobriram descobriram úlceras de origem bacteriana, o Helicoter bacter, com uma freqüência de incidência bastante alta e com transmissão contaminante.