Revista de Psicofisiologia, 3(1), 1999

O estresse forte e o desgaste geral

5) ALGUNS ALVOS DO ESTRESSE

5.1) Depressão

    A depressão compõe, ao lado da ansiedade, da angústia e da mania, o conjunto daquilo que os psiquiatras chamam distúrbios da afetividade. Tais distúrbios podem ser entendidos como doenças em que a mudança do estado de ânimo é a característica primária e dominante, relativamente fixa e permanente. No caso da depressão, a mudança do estado de ânimo consiste no surgimento de um sentimento generalizado de tristeza, cujo grau pode variar desde um desalento moderado até ao mais intenso desespero. A duração é igualmente variável, podendo desaparecer em poucos dias, ou estender-se por semanas, meses e até anos a fio.

    A depressão é um termo comum que tem acompanhado o homem através de sua história e literatura, portanto é uma experiência universal, já que as emoções de tristeza e pesar fazem parte da condição humana, e como toda doença, qualquer um pode ser acometido por ela. A depressão é, em geral, classificada como uma doença funcional, ou seja, que não tem causas físicas palpáveis, o que leva à suposição de ter origem psicológica. Isto tem sido questionado porque dentro dos limites normais reduziram-na a experiências subjetivas de desconforto, de sofrimento e de vulnerabilidade. Mas a falha desse mecanismo de defesa se relaciona principalmente com a elevação da produção de cortisol.

    A depressão causada pelo estresse prolongado se dá devido à ativação constante da supra-renal, levando-a a atingir seu nível máximo de produção de noradrenalina, a partir do qual se torna incapaz de satisfazer a demanda. Aí libera adrenalina, que lhe é precursora na síntese, e desenvolve sintomas de fuga mais do que de enfrentamento (Funkeinstein, 1970). No entanto, o indivíduo pode entrar em depressão aguda devido ao estresse de exaustão que libera logo cortisol (Mendels, 1972).

    É necessário, entretanto, não confundir estados passageiros de melancolia com a depressão intrínseca, endógena. Existem inclusive situações diante das quais o anormal talvez fosse não ficar deprimido. É o caso, por exemplo, da perda do emprego ou "status" social, rompimento amoroso, e da morte de uma pessoa querida ou ainda a descoberta de que se é portador de uma doença grave. A esse tipo de depressão os médicos costumam chamar "depressão reativa" ou vivencial, justamente por caracterizar uma reação "normal" à perda.