Revista de Psicofisiologia, 3(1), 1999

O estresse forte e o desgaste geral

7) CONCLUSÃO: evitando malefícios e encontrando o caminho do bem-estar na vida moderna     A interação íntima entre processos físicos e mentais tem sido reconhecida ao longo dos tempos, porém, o modo preciso como essa interação é feita ainda não é bem entendido, o que faz com que a maioria dos médicos negligenciem os aspectos psicológicos das doenças. Com o surgimento de várias abordagens que tentam resgatar a unidade entre corpo e mente no homem, foi criada uma extensa literatura sobre o papel das influências psicológicas no desenvolvimento das doenças, mas pouquíssimo trabalho foi realizado para explorar os métodos de alteração dessas influências maléficas (Pimentel de Souza et al, 1997 e 1998). Segundo Capra (1993) em seu livro "O Ponto de Mutação, a chave para se estudar esses métodos é a idéia de que as atitudes e os processos mentais não só desempenham um papel significativo no desenvolvimento de uma doença, como são também decisivos no processo de cura.

    A natureza psicossomática subentende a possibilidade de autocura psicossomática. O primeiro passo nesse tipo de autocura será o reconhecimento pelos pacientes, de que participaram, consciente ou inconscientemente, da origem e do desenvolvimento de sua doença e que por isso mesmo são capazes de participar do processo de cura.

    No contexto de uma abordagem psicossomática, essa participação no desenvolvimento de uma doença significa que fazemos certas escolhas que nos expõe a situações estressantes. Essas escolhas são influenciadas pelos mesmos fatores que influenciam todas as escolhas que fazemos na vida. Elas são feitas muito mais inconsciente do que conscientemente e dependerão de nossa personalidade, de várias restrições externas o do condicionamento sócio-cultural. A finalidade do reconhecimento de participação pessoal no processo da doença abrange todos esses fatores. Através dessa conscientização, podem-se promover as mudanças necessárias nesse contexto que possibilitam o processo de cura.

    A cura da doença não fará necessariamente com que o paciente fique saudável, mas a enfermidade pode ser uma oportunidade para a introspecção que irá buscar transparência na raiz do problema. Não há como evitar a conclusão de que o atual sistema tornou-se, por si mesmo, uma ameaça fundamental à nossa saúde. Não seremos capazes de aumentar, ou mesmo manter nossa saúde, se não adotarmos profundas mudanças em nosso sistema de valores e em nossa organização social. O médico Leon Eisenberg reconhece esse aspecto com muita clareza: "nossa prática diária com padecimentos humanos tornou-nos profundamente conscientes de que os problemas de má saúde decorrem, em grande parte, de falhas em nossas instituições políticas, econômicas e sociais. Replanejar todas essas instituições é o desafio central para o próximo século, e acenar com promessas de melhora de saúde pública".

    Diante desse quadro, que tende a se agravar cada vez mais, que atitudes devemos tomar para retomar o curso de um desenvolvimento saudável? É possível mudar esse sistema? Sem dúvidas, essa mudança é um grande desafio, e não é de se espantar que ela seja proposta agora e se estenda ao próximo século.

    Goleman (1995), em seu livro "Inteligência Emocional", aponta para a importância de se promover uma nova educação que esteja atenta não só à transmissão do saber tecnológico, mas que também desperte nas crianças o interesse por seus sentimentos, por suas emoções. Ele propõe um programa de alfabetização emocional. Esse programa desenvolveria tópicos básicos como autoconsciência emocional, controle das emoções, canalização produtiva das emoções, entre outros. Propostas como esta são fundamentais para que se comece a substituir nosso atual paradigma mecanicista por um novo que valorize nossa aspecto mais sublime que é o de sermos humanos. Parece que em nossa ânsia por desenvolvimento e progresso, colocamos esse nosso aspecto em segundo plano. A luta pela sobrevivência, a competitividade trouxe ao homem o desejo da perfeição e por um momento desejamos ser como máquinas, ignorando nossas limitações orgânicas e desvalorizando nossos sentimentos. O progresso, o desenvolvimento trouxeram e trazem ganhos indiscutíveis, mas é chegada a hora de adaptar esses ganhos materiais às nossas verdadeiras necessidades. O progresso, é lógico, deve continuar, mas com seu objetivo básico de trazer benefícios, e não malefícios.

    Nas palavras do Dr. Oswaldo Paulino: "o homem moderno na sua ânsia de conquistar o universo está se esquecendo da maior das maravilhas: o encontro consigo mesmo". Que aqueles que já se deram conta disso possam levar a outros a importância desta busca e que nas próximas gerações ela seja uma necessidade central na vida humana. Assim, o amadurecimento mental e psicológico é a resposta à exigência da vida moderna, necessitando o homem para tal recuperar sua vida íntima.