Revista de Psicofisiologia, 3(1), 1999

O estresse forte e o desgaste geral

6) COMO A NICOTINA DO CIGARRO MINA A SAÚDE

    A ação do sistema nervoso autônomo simpático, a princípio, dá ao indivíduo uma sensação de euforia, porque excita.

    Os neurônios pré-ganglionares, tanto do simpático quanto do parassimpático, secretam acetilcolina nas suas terminações nervosas e esta, por sua vez, estimula os neurônios pós-ganglionares. A nicotina, em baixa concentração, é uma substância que também pode estimular os neurônios pós-ganglionares da mesma maneira que a acetilcolina, por isto as membranas neuronais são ditas terem receptores colinérgicos nicotínicos, por responderem a ambas substâncias.

    A nicotina excita tanto o SNAS quanto o parassimpático, simultaneamente, resultando, como predominância do primeiro, em forte vasoconstrição nas vísceras e nos músculos esqueléticos, podendo ocasionar, nas situações de bloqueio emocional, efeitos parassimpáticos paralelos, tais como o aumento da atividade gastrintestinal e, às vezes, diminuição da freqüência cardíaca. A ação simpática explica-se pelo seu efeito mais maciço e abrangente, devido à multiplicação dos seus contactos sinápticos e a difusão de catecolaminas pelo sangue.

    Farmacologicamente, a nicotina age estimulando ou deprimindo as estruturas onde ocorrem receptores nicotínicos do SNAS nos aparelhos cardiovascular, respiratório, gastrointestinal, urinário etc e na musculatura esquelética. Além disto sua absorção pelas vias respiratórias, mucosa bucal e pele é bem grande. Esta ação dupla é realizada da seguinte maneira: quando administrada em pequenas doses, a nicotina causa uma despolarização inicial, gerando um potencial excitatório pós-sináptico rápido. Em doses maiores, segue-se o bloqueio da transmissão nervosa por hiperpolarização. Em administrações contínuas, causa a dessensibilização dos receptores nicotínicos, prolongando-se o bloqueio.

    Como a nicotina "simula" a ação da acetilcolina, ao começar a fumar o indivíduo se sentirá forte e eufórico a cada cigarro consumido. Porém, quando o hábito de fumar é prolongado, acumula-se maior quantidade de nicotina no organismo, e seu efeito passa a ser de bloquear a ação do SNAS.

    Paradoxalmente, quando um indivíduo é submetido a situações de altos e freqüentes níveis de estresse, o SNAS passa a ser aversivo, por se acabar condicionando à fuga de estímulos agressivos. Os altos níveis de nicotina vão condicionar o indivíduo a evitar a ação do SNAS, produzindo prazer imediato, pois se associou ao incômodo estressante. Essa desestimulação do SNAS poderá acarretar vários problemas para o organismo, como por exemplo a deficiência da circulação sanguínea, pois, na situação de agressão contínua grave, aumenta-se a demanda nutricional dos órgãos, para ter uma reação à altura da agressão, podendo levar à gangrena nos membros por insuficiência de nutrientes.

    Concluindo, o cigarro leva ao estresse, que talvez seja talvez seja a maior causa moderna de satisfação do prazer e de resistência às opressões, além da curiosidade e "marketing", que leva uma pessoa a se tornar dependente dos efeitos da nicotina, para manter o moral. As multinacionais e os governos atrasados se aproveitam disso para aumentar seus orçamentos sempre deficitários às custas dos "pobres" viciados.

    Quando o fumante se expõe constantemente a situações estressantes, o SNAS é continuamente estimulado e associado a sensações desagradáveis, e aí paradoxalmente a necessidade de fumar é para que a nicotina possa inibir a ação simpática e amenizar o desconforto. Portanto, podemos dizer que, no início, o vício é mantido pela agradável sensação de euforia proporcionada pela nicotina estimulatória do SNAS, e posteriormente, pelo bloqueio das sensações desagradáveis causadas por uma elevada e continuada estimulação do SNAS, condicionado aversivamente.