Revista de Psicofisiologia, 2(1), 1998

Reações autonômicas e hormonais

7) A AÇÃO DA NICOTINA DO FUMO NO ORGANISMO


       
  O número de vítimas do tabaco nesta década poderá atingir 30 milhões de pessoas, segundo estimativas da Organização Mundial de Saúde (OMS). Em cinqüenta ou cem anos, se a situação continuar como está, o fumo terá matado mais gente do que todas as guerras da história. Essas estimativas são incertas, porém o fato de que o cigarro vicia e faz mal à saúde é uma verdade incontestável.

        O uso persistente do tabaco e a aflição psicológica causada pela necessidade de seu uso repetido, caracterizam a dependência do tabaco. Podendo esta ocorrer em um prazo entre 01(um) e 03(três) meses. Os reforços sociais influenciam o início do uso do tabaco. Quando o indivíduo começa o hábito de fumar, vários efeitos farmacológicos da nicotina, um alcalóide presente nas folhas do tabaco, provocarão a dependência em grande parte dos consumidores regulares.

        Os atos físicos da ação do fumar tem um efeito farmacológico a tal ponto que muitas pessoas se sentem confortáveis em situações de tensão quando executam ações tais como acender o fósforo, manusear o cigarro etc. Apesar das pessoas terem consciência de que o fumo faz mal à saúde, ele é tolerado pela sociedade uma vez que não provoca alterações mentais no fumante. Apesar disso, o vício do tabaco se implanta de modo semelhante ao das drogas ilegais.

        Sete segundos após a tragada, a nicotina, através da circulação sangüínea, chega ao cérebro, entrando em contado com as células nervosas, que irão atuar permitindo o seu reconhecimento. A partir daí, outras substâncias são liberadas transferindo o impulso nervoso de uma célula a outra. E delas para o sistema que controla a atividade de glândulas de secreção interna.

        A nicotina em altas concentrações favorece a atuação do sistema parassimpático, bloqueando o simpático, dando a sensação ao fumante de bem-estar. Seu uso contínuo fará com que o indivíduo habitue-se a esse bem-estar, entrando em desconforto quando as cargas regulares de nicotina são suspensas. A pessoa pode então ficar irritada, ansiosa, com insônia e pode até vomitar. Em casos mais graves a reação se caracteriza como crise de abstinência. O fumante deseja manter a concentração habitual de nicotina no sangue, capaz de garantir sensações consideradas por ele como agradáveis, mas essa é uma situação transitória, pois a nicotina se decompõe no organismo, em média, entre 20 e 30 minutos, quando o fumante sente a vontade de acender outro cigarro.

        Nicotina é a substância mais destacada na ação do fumo, pois é a principal causadora da dependência, pois atua diretamente sobre o sistema nervoso autônomo, embora existam outras substâncias igualmente maléficas, um total de 4720 já foram isoladas em laboratório.

        A nicotina pode estimular os neurônios pós-ganglionares, do mesmo modo que a acetilcolina, pois as membranas neuronais possuem receptores colinérgicos-nicotínicos, mas ela não estimula diretamente os órgãos efetuadores autonômicos. A nicotina excita o SNA Simpático e Parassimpático simultaneamente. Pode causar vasoconstricção simpática dos membros mas também efeitos parassimpáticos paralelos como aumento da atividade gastrointestinal e, às vezes, diminuição da freqüência cardíaca. No entanto quando há antagonismos entre os sistemas autonômicos, predomina-se a ação simpática, cuja ação é maciça em um território bem mais amplo.

        A nicotina, quando em níveis baixos no organismo, estimula o SNA simpático, causando sensação de força e euforia no indivíduo. Já em níveis altos, a nicotina bloqueia mais o SNA simpático do que o Parassimpático, o que vai resultar em sensação agradável. Isto porque a estimulação simpática deve ter sido condicionada pela sua alta frequência de associação a fatores desagradáveis. Há vários problemas para o organismo como por exemplo a contradição entre a deficiência da circulação sangüínea em músculos, que são solicitados a maior esforço, podendo levar à gangrena.

        Assim, quando o indivíduo começa com o hábito de fumar, ele é submetido a situações de estresse que irão estimular a ação do simpático, causando sensações desagradáveis. Ele irá então ter uma tendência de fumar mais, já que a nicotina inibirá a ação do simpático proporcionando sensações agradáveis.

        Inicialmente, o indivíduo utiliza o cigarro como um excitante artificial. Porém, chega em um ponto, com altas doses de nicotina num indivíduo estressado, que o cigarro terá um papel de calmante artificial.