Revista de Psicofisiologia, 3(1), 1999

O estresse forte e o desgaste geral

2) CONCEITUAÇÃO E HISTÓRIA DAS DOENÇAS PSICOSSOMÁTICAS  

      Há mais de cem anos que alguns psiquiatras e médicos já começaram a concordar que em alguns distúrbios as atividades somáticas e emocionais tem mão dupla. Heinroth foi quem pela primeira vez usou o termo "distúrbio psicossomático", referindo-se à insônia. Jacobi, um psiquiatra alemão, mais tarde popularizou o termo e o conceito de "distúrbios psicossomáticos" que foram ampliados até incluir colite ulcerativa, úlcera péptica, enxaquecas, asma brônquica, artrite reumatóide etc.

    Mas o termo gera controvérsias. Nas classificações americanas mais recentes, DSM-llI e DSM-lll-R, tratam distúrbios psicossomáticos quando ocorrem estímulos ambientais psicologicamente significativos, que se relacionam com surgimentos ou agravamentos de distúrbio físico de uma patologia orgânica observável ou de processo fisiopatológico conhecido. A DSM-III não enfatiza a interação entre mente e corpo, renegando a abordagem holística da medicina. Para Capra o termo psicossomática exige certo cuidado. Na medicina convencional o termo foi usado para referir-se a distúrbios sem base orgânica claramente diagnosticada, por isso sempre foram considerados mais imaginários ou "psicológicos" do que reais. A nova acepção do termo, que adotaremos, foi explicitada por Capra em "O ponto de mutação" (1993) e trabalha com a interdependência corpo/mente em todos os estágios da doença e saúde. Conforme suas palavras:

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  • "Afirmar que um distúrbio tem causas puramente psicológicas seria tão reducionista quanto acreditar que existam doenças puramente orgânicas sem quaisquer componentes psicológicos... "

  •     Portanto, virtualmente todos os distúrbios são psicossomáticos, pois envolvem uma interação contínua de corpo e mente em sua origem, desenvolvimento e cura. As manifestações é que variarão em cada caso, predominando ora aspectos psicológicos ora aspectos físicos. Mesmo "doenças mentais" envolvem sintomas físicos. Além do papel importante do ambiente social e cultural, deve-se considerar a família, amigos, trabalho e outros grupos sociais em sua interação com o indivíduo. Também aspectos do ambiente físico exigem, do organismo, a todo instante, movimentos de adaptação e esforços adicionais ao que o organismo pode suportar. Não podemos deixar de considerar o papel da personalidade, crucial na geração de muitas doenças. Personalidades e conflitos específicos estão associados com diferentes doenças psicossomáticas. Por outro lado, há quem defenda o ponto de vista de que a ansiedade generalizada inespecífica é derivada de uma espécie de conflito, que pode levar a várias doenças diferentes. Para Capra, o elo mais convincente entre personalidade e doença foi encontrado nas doenças cardíacas, haja visto do teste de personalidade de tipo A e B (Sabbatini, 1999); e estão sendo estabelecidos vínculos hipotéticos para outras doenças importantes, como o câncer. Um enfoque holístico terá de encarar a saúde a partir dessa ampla perspectiva.

        Por outro lado, Damásio (1998) acentua que a medicina moderna confirma a hipótese acima tratando o corpo separado da mente, começando na época de Descartes. Já é tempo de considerar melhor a interação corpo-mente.