Revista de Psicofisiologia, 2(1), 1998

Ontogenia: do nascimento à velhice

2) A INFÂNCIA

2.1) O desenvolvimento é contínuo

Apesar de ser possível uma periodização do desenvolvimento humano com características próprias e peculiares, a evolução do homem é ininterrupta e gradativa, obedecendo a certa ordem e regularidade.

Desde a concepção até a maturidade há um paralelo no desenvolvimento do organismo do cérebro e do comportamento. Os traços, físico ou mental, não surgem repentinamente sem a existência de sua estrutura anatômica e funcional muitas vezes bem antes do nascimento da criança. Se por exemplo, uma criança começa a correr, sem nunca ter apresentado tal comportamento antes, isso não significa que tal habilidade foi adquirida naquele exato momento. Ao contrário, houve uma longa e custosa preparação para esse comportamento, tal como: engatinhar, ficar de pé, andar e finalmente correr. De maneira idêntica temos o primeiro dente, que aparece somente aos seis meses de idade, mas sua estrutura anatômica já existe desde o quinto mês fetal. Assim há a influência do anatômico no comportamento.

Por outro lado devido à continuidade do desenvolvimento é que uma fase da vida influencia as outras fases posteriores. Uma criança que sofreu trauma emocional durante a infância, como por exemplo, a falta de afeto e abandono pelos pais, na idade adulta pode apresentar anomalia de personalidade e do comportamento como resultado deste traumatismo. Assim, a experiência vivida influe na estrutura nervosa sobre forma de retenção na memória. Se não houvesse esta continuidade do desenvolvimento, perder-se-iam em cada nova fase as experiências adquiridas anteriormente. Cada período de vida pode ser um aperfeiçoamento do período anterior e uma preparação para o posterior.

O crescimento na infância consiste em mudanças em tamanho, proporções do corpo e funcionamento. Cada espécie de tecido tem o seu crescimento próprio, que é relativamente independente das outras partes e tecidos do corpo. As proporções do corpo mudam notavelmente do nascimento à maturidade.

O curso geral do crescimento, assinalado por mudanças em peso e altura do nascimento à maturidade, é rápido na primeira infância, depois lento, torna-se rápido outra vez durante o surto de crescimento pré-pubertário, lento na subsequente adolescência e tem um nivelamento final aos dezoito e dezenove anos até vinte e poucos anos.

O menino médio é maior que a menina, exceto num período pouco antes da adolescência. As meninas geralmente são mais amadurecidas que os meninos da mesma idade, embora sendo menores. Tabelas de idade adulta e peso deveriam ser usadas com o devido cuidado em relação à nacionalidade e à origem da família, tamanho do esqueleto e forma individual de crescimento da criança.

Grandes diferenças individuais em tamanho e formas gerais de crescimento devem ser esperadas. Dentro de uma mesma classe, não é raro para a criança mais pesada ser duas vezes e meia mais pesada que a criança mais leve e a mais alta ser aproximadamente cerca de 33 cm mais alta que criança mais baixa. Crianças da mesma idade cronológica podem variar mais que cinco anos em maturidade física.

Mais importante que as diferenças físicas são a avaliação que a sociedade faz dessas diferenças, a aceitação individual dessas avaliações sociais e o seu efeito no seu "auto conceito". As meninas que têm maturação precoce e os meninos de maturação tardia são os únicos que provavelmente se acharão com físicos sexualmente inadequados, por maiores períodos de tempo. Serão esses indivíduos os que mais provavelmente terão problemas sociais de ajustamento relacionados ao seu físico.

Os problemas de ajustamento das pessoas que têm deficiências físicas são essencialmente os mesmos das crianças que apresentam menores desvios, mas em maior escala, com a sobrecarga adicional da falta das habilitações sociais úteis e economicamente necessárias. O indivíduo excepcional lança mão de três formas de ajustamento, que são:

  1. fuga para um mundo seu, mais limitado;

  2. rejeição do mundo dos excepcionais e uma tentativa de viver no mundo dos normais;

  3. uma fórmula conciliatória na qual o excepcional participa com o normal de todas as atividades nas quais ele não se acha numa desvantagem demasiadamente grande e renuncia àqueles setores nos quais a sua deficiência o incapacita, sem esperanças.

Há considerável conflito entre as pressões sociais que impelem o indivíduo a negar sua deficiência e a superá-la, para aceitar sua "diferença". A criança devia ser ajudada no sentido de encontrar uma fórmula conciliatória inteligente e aceitável entre essas alternativas.