Rejeito derramado reduziu taxa de crescimento de vegetais, que também apresentaram alta concentração de ferro, manganês, cobre e boro, o que é impróprio para consumo
O colapso da barragem de rejeitos do Fundão, em Mariana, no estado de Minas Gerais, foi o maior desastre da mineração do mundo, até hoje. O mar de lama que percorreu 663,2 km do Rio Doce, do município de Mariana até o Oceano Atlântico, afetou mais de 40 municípios e milhões de pessoas. O impacto disso trouxe resultados socioeconômicos e ambientais.
Um artigo publicado na revista científica Acta Scientiarum - Biological Science, por um grupo de cientistas da Universidade Federal de Minas Gerais, Centro Universitário Una e Universidade Federal de Viçosa, avaliou se a diluição do rejeito da mineração com solo orgânico eliminaria, ou pelo menos atenuaria, os efeitos tóxicos no desenvolvimento e desempenho do rabanete. Usado em saladas e com rico valor alimentar, o consumo do rabanete vem aumentando progressivamente e por este motivo foi escolhido como objeto de estudo.
Além das questões ambientais e sociais, no que se refere ao desenvolvimento e à qualidade nutricional deste tubérculo, os reflexos do rejeito derramado nas áreas de plantio são alarmantes. O solo tornou-se mais arenoso, pobre em matéria orgânica e com alta concentração de alguns metais pesados. Isso atrapalhou o crescimento do rabanete, que também apresentou alta concentração de ferro, manganês, cobre e boro no tubérculo do rabanete, indicando não serem apropriados para consumo humano.
Os pesquisadores verificaram que os efeitos negativos do solo contaminado por rejeito foram atenuados quando a ela foi adicionada matéria orgânica. Porém, embora o acréscimo de 25% de matéria orgânica fosse suficiente para melhorar o desenvolvimento do rabanete a concentração de metais pesados continuou além dos limites permitidos para o consumo humano.
Segundo o líder do estudo, professor Geraldo Wilson Fernandes, do Departamento de Genética, Ecologia e Evolução do Instituto de Ciências Biológicas da UFMG, a pesquisa alerta para o risco de consumir alimentos cultivados na região onde o solo pode ter sido afetado pelo rejeito da mineração na região do rio Doce. Para entender adequadamente o efeito do rejeito nos diversos produtos hortifrutigranjeiros “é fundamental ampliar pesquisas e o seu caminho até chegar à mesa das pessoas, e ainda seus efeitos na saúde pública”, adverte o cientista do ICB UFMG.
LEIA O ARTIGOAftershocks of the Samarco disaster: diminished growth and increased metal content of Raphanus sativus cultivated in soil with mining tailings
Araújo, B. D., Maia, R., Arantes-Garcia, L., Oki, Y., Negreiros, D., de Assis, I. R., & Fernandes, G. W. (2022)
Acta Scientiarum. Biological Sciences 44:e59175.
Doi: 10.4025/actascibiolsci.v44i1.59175