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Tarazona. arquivo pessoalPara Eduardo Tarazona, "já são conhecidas mais de 200 variantes genéticas que influenciam na predisposição genética para obesidade. Por isso, o fator genético precisa ser levado em conta na formulação de políticas públicas que visam combater a obesidade.” - Foto: Arquivo pessoal

Pesquisa do ICB UFMG analisou variante encontrada em 6,4 mil indivíduos e observou que homens não têm seu IMC afetado

Para entender melhor como a obesidade se manifesta nos brasileiros, um grupo de pesquisadores, liderado pelo professor Eduardo Tarazona Santos, do Departamento de Genética, Ecologia e Evolução do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da UFMG, investigou os genomas dos brasileiros miscigenados que têm predisposição à obesidade.

O artigo resultante acaba de ser publicado no International Journal of Obesity, uma grande revista científica nessa área.

Segundo o IBGE, há prevalência de sobrepeso e obesidade na população brasileira. A obesidade, caracterizada por IMC maior que 30, atinge 22,8% dos homens e 30,2% das mulheres. Já o sobrepeso, quando o IMC é maior que 25, atinge cerca de 60% dos adultos, ou 96 milhões de pessoas.

“Como o genoma brasileiro é um mosaico de fragmentos de origens africanas, indígenas e europeias, decidimos explorar os genomas para entender se algumas de suas partes poderiam estar associadas à obesidade”, conta.

Ao analisar amostras de 6.487 pessoas, por meio do Epigen-Brasil, maior iniciativa em genômica populacional e epidemiologia genética da América Latina, o grupo do ICB UFMG encontrou uma variante genética de origem africana  (rs114066381) que contribui para um aumento considerável do ìndice de Massa Corporal (IMC).

A variante foi observada em homens e mulheres adultos miscigenados, mas os cientistas constataram que ela só apresenta efeito no índice de massa corporal das mulheres. A descoberta dessa variante africana em nossa população é muito importante para permitir que os estudos de obesidade possam ser melhor angulados ao nosso perfil.

esquema.miscigenação.genomaA miscigenação do genoma brasileiro, segundo o grupo de pesquisa do ICB UFMGMAPEAMENTO GENÉTICO

A descoberta da variante africana da obesidade foi feita por meio do mapeamento por miscigenação. “Inicialmente, descobrimos a origem africana, europeia ou indígena de cada fragmento do genoma de cada pessoa. Depois, observamos que algumas regiões do genoma, como uma do cromossomo 13, tendiam a ser africanas nas mulheres mais obesas.

Na última etapa dos estudos, investigamos as variantes genéticas que estavam nesses pedacinhos africanos”, explica a pesquisadora Marília Scliar. “O passo a passo que criamos pode ser usado em pesquisas sobre como diversas variantes genéticas predispõem os indivíduos a um número grande de doenças”, conclui a pesquisadora.

No artigo, o grupo mostra que a variante rs114066381 tem frequência de aproximadamente 1% na população geral, mas entre as mulheres com obesidade mórbida (o maior nível de obesidade) do Sul e Sudeste do Brasil ela chega a 10%. Segundo Scliar, a descoberta ressalta a importância de estudos sobre populações não europeias. “Grande parte dos estudos genômicos mundiais ocorre em populações europeias, o que é muito restritivo. É importante que tenhamos descoberto uma variante de origem africana com grande efeito sobre a obesidade em populações não muito estudadas”.

SURPRESAS

Para Tarazona, algumas descobertas foram inesperadas. A primeira refere-se ao fato de que a variante genética mais presente em fragmentos dos indivíduos de origem africana foi encontrada inicialmente no Sul do Brasil, região onde há miscigenaçáo, mas com predomínio de pessoas de origem européia. “A população do sul do Brasil estudada tem uma contribuição europeia de aproximadamente 70%, mas, mesmo assim, o gene africano aparece por lá, ou seja, os brancos brasileiros de origem europeia têm esses pedaços do genoma africano. Isso mostra que mesmo esses indivíduos podem fornecer informações importantes sobre a genética de doenças nas populações africanas ou naquelas miscigenadas com populações africanas", afirma.

O segundo fator de destaque da pesquisa, segundo o professor do ICB, refere-se ao fato de que a variante genética descoberta atua somente em mulheres adultas miscigenadas. “Isso pode ter relação com a evolução biológica das mulheres, uma vez que já são conhecidas outras variantes genéticas que fazem as mulheres acumular mais gordura que os homens. Apesar de sabermos que a obesidade está relacionada à alimentação e aos hábitos das pessoas, já são conhecidas mais de 200 variantes genéticas que influenciam na predisposição genética para obesidade. Por isso, o fator genético precisa ser levado em conta na formulação de políticas públicas que visam combater a obesidade”, declara o cientista.

PARCERIAS

O estudo, que vem sendo realizado há quase uma década pelos pesquisadores da UFMG, integra o trabalho de grupos de 22 instituições, 11 brasileiras e 11 de Estados Unidos, Peru, África do Sul, Gana e Austrália. Também houve parceria com grupo da Universidade de São Paulo (USP), liderado pelas professoras Mayana Zatz e Yeda Duarte, que acabaram de fazer o sequenciamento completo de 1,2 mil genomas de idosas de São Paulo do estudo SABE (Saúde, Bem-estar e Envelhecimento), e que possibilitou replicar o resultado obtido no estudo inicial. O Projeto Epigen-Brasil, financiado pelo Ministério de Saúde, investiga como a miscigenação e ancestralidade dos brasileiros influencia a epidemiologia de várias doenças, como a hipertensão e a asma, por exemplo.

 

O ARTIGO

Admixture/fine-mapping in Brazilians reveals a West African associated potential regulatory variant (rs114066381) with a strong female-specific effect on body mass and fat mass indexes (Clique no link para acessar)
Marilia O. Scliar, Hanaisa P. Sant’Anna, […] & Eduardo Tarazona-Santos
Publicação: International Journal of Obesity, em 26 de fevereiro de 2021

 

LEIA TAMBÉM

Estudo do ICB interpreta origem e dinâmica da miscigenação brasileira (30/06/2015)

 

(Com redação de Luana Macieira, Agência de Notícias da UFMG. Edição Marcus Vinicius dos Santos, ACBio ICB UFMG).

 

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