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Diaspora.Marcos.Nunes.UFMGArtigo publicado na Molecular Biology and Evolution, uma das revistas científicas mais conceituadas do mundo, traz artigo liderado pelo grupo do professor Eduardo Tarazona-Santos, do Departamento de Genética, Ecologia e Evolução do Instituto de Ciências Biológicas (ICB), que estudou a diversidade do genoma de 6267 indivíduos de 22 populações africanas e americanas, para reconstruir aspectos da história da escravidão nas Américas em seus contextos geográfico, geopolítico e médico.

“A escravidão foi uma tragédia que faz parte da nossa história, da nossa identidade e essa história está escrita também no nosso genoma", afirma o professor. Segundo ele, o estudo observou que a ancestralidade africana predominante nas Américas originou-se de países como Nigéria e Gana, na região Centro-Ocidental africana.

Por outro lado, nas Américas, a ancestralidade do Oeste africano, de países como Senegal e Gambia, aumenta em direção ao Norte, em particular no Caribe e Norte-América, e a dos povos Bantu do Sul e Leste da África, é maior no Sul do Brasil. "Ou seja, existe uma organização norte versus sul, latitudinal das ancestralidades” diz Tarazona-Santos, que imagina o genoma dos latino-americanos como “mosaicos de ancestralidades indígenas, africanas e europeias”.

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O trabalho da equipe de pesquisadores foi interdisciplinar, envolvendo conceitos estatísticos complexos, além de grande know-how e capacidade computacional para analisar os big-data de tipo genômico, áreas nas quais a UFMG tem liderança internacional. Os pesquisadores compararam os dados genéticos com informações de fontes histórico-demográficas sobre o número de embarques e desembarques da África nas Américas durante a Diáspora Africana. Esta comparação revelou que o período entre 1750 e 1850 foi crítico, correspondendo a picos na chegada de escravos da África, o que foi acompanhado de uma intensificação da miscigenação em todo o continente americano.

A diáspora (dispersão de um povo por diferentes outros territórios) no caso dos africanos envolveu mais de 9 milhões de pessoas, forçadamente transportados para as Américas, entre os séculos XVI e XIX. Tarazona-Santos afirma que: “geneticamente, os africanos são a população com mais diversidade no mundo. Observamos, pela primeira vez, que a Diáspora Africana para as Américas foi tão grande e duradoura que os africanos trouxeram toda a sua diversidade genética, que hoje está presente no componente africano dos nossos genomas miscigenados. Por outro lado, nos últimos 500 anos, nós, nas Américas, nos misturamos mais do que na África e a parte africana do nosso genoma virou mais homogênea entre as populações das Américas. Um brasileiro do Sul e um afro-americano são geneticamente mais similares no seu componente africano do que um moçambicano versus um nigeriano”. Estes resultados têm relevância médica, pois significam que as variantes genéticas responsáveis por doenças estão mais homogeneamente distribuídas entre as diferentes populações das Américas do que na África.

O estudo do grupo da UFMG é a continuação de outra publicação, de 2015, com enfoque no estudo do Brasil, e que é um dos trabalhos científicos liderados por pesquisadores brasileiros mais citados por outros cientistas nos últimos cinco anos. Os dois estudos tiveram como principal financiador o Ministério de Saúde, no contexto do projeto EPIGEN-Brasil.

O grupo de Tarazona também oferece um curso teórico com práticas bioinformáticas direcionado a profissionais que atuam no ecossistema de inovação e saúde: Next Generation Sequencing para Medicina Genômica

Os pesquisadores da UFMG envolvidos no estudo estão vinculados ao Departamento de Genética, Ecologia e Evolução do ICB; Departamento de Estatística; Laboratório de Genômica, Centro de Laboratórios Multiusuário (Celam) do ICB; Mosaico Translational Genomics Initiative e Instituto de Estudos Avançados Transdisciplinares.

Artigo: Origins, Admixture Dynamics, and Homogenization of the African Gene Pool in the Americas

Autores: Mateus H. Gouveia (UFMG), Victor Borda (UFMG), Thiago P. Leal (UFMG), Rennan G. Moreira (UFMG), Andrew W. Bergen, Marla M. Aquino (UFMG), Gilderlanio S. Araujo (UFMG), Nathalia M. Araujo (UFMG), Vinicius Furlan (UFMG), Fernanda S.G. Kehdy (UFMG), Raquel Liboredo (UFMG), Moara Machado (UFMG), Wagner C.S. Magalhaes (UFMG), Lucas A. Michelin (UFMG), Maíra R. Rodrigues (UFMG), Fernanda Rodrigues-Soares (UFMG), Hanaisa, P. Sant Anna (UFMG), Meddly L. Santolalla (UFMG), Marília O. Scliar (UFMG), Giordano Soares-Souza (UFMG), Roxana Zamudio (UFMG), Camila Zolini (UFMG), Michael Dean, Robert H. Gilman, Heinner Guio, Jorge Rocha, Alexandre C. Pereira, Mauricio L. Barreto, Bernardo L. Horta, Maria F. Lima-Costa, Sam M. Mbulaiteye, Stephen J. Chanock , Sarah A. Tishkoff, Meredith Yeager, Eduardo Tarazona-Santos (UFMG)
Data de publicação: 5 de março
Revista: Molecular Biology and Evolution
Link doi: 10.1093/molbev/msaa033

 

 

(Com informações da Agência de Notícias da UFMG. Arte: Marcos Nunes)

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