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Mostrando que o vírus saiu do Brasil e deu a volta ao mundo para chegar ao continente africano, investigações genéticas alertam para o efeito da mobilidade humana no controle de epidemias virais e evidenciam necessidade de vigilância mais eficaz

Renato AguiarUm estudo realizado em parceria entre o Departamento de Zoologia da Universidade de Oxford, o Instituto de Ciências Biológicas da UFMG e o Centro de Referência de Microcefalia, junto com Ministério da Saúde Angolano e Ministério da Saúde de Portugal, utilizou as mais recentes tecnologias de sequenciamento genômico portátil para investigar casos suspeitos de microcefalia causada pelo vírus zika na gravidez de mulheres africanas. Microcefalia é uma malformação congênita que leva o cérebro a não se desenvolver de maneira adequada.

Os resultados da pesquisa foram publicados nesta quarta-feira, 26 de setembro de 2019, na revista The Lancet Infectious Diseases, e mostram pelo menos quatro pontos de grande importância para a melhor compreensão desse quadro, ainda pouco conhecido:

- o genótipo asiático do vírus zika relacionado a quadros de microcefalia no Brasil circula em Angola pelo menos desde 2016; é provável que ele tenha vindo do Brasil; a rota de migração do vírus reflete a rota de viagem das pessoas entre Brasil e Angola; a ausência de descrição de casos de microcefalia por zika anteriores é devido à subnotificação das agências de saúde na África.

UFMG Luanda OxfordPara entender a história genética desse vírus foram feitos exames sorológicos, moleculares e sequenciamento de genoma do virus zika. O estudo também se propôs a estudar frequência, distribuição geográfica e demais aspectos determinantes dos casos de microcefalia nas populações atingidas, ou seja, sua epidemiologia. Eles identificaram cerca de 50 casos de microcefalia suspeitos de zika em Luanda, capital de Angola, sendo três destes confirmados por testes do genoma viral.

Os cientistas já sabiam que existem duas linhagens do vírus zika: africana – restritas ao continente africano, e asiática – responsável pelas grandes epidemias de zika e microcefalia associada nas Américas. Até então, apenas a linhagem africana tinha sido detectada na África. “Não há outro trabalho que descreva casos de microcefalia por zika no continente”, afirma o biólogo Renato Santana Aguiar, coautor da pesquisa e professor do departamento de Genética, Ecologia e Evolução e também do programa de pós-graduação em Genética do Instituto de Ciências Biológicas da UFMG.
Esta foi a primeira vez que genomas completos do vírus da zika foram gerados no continente. Por outro lado, o vírus foi isolado pela primeira vez na cidade de Kampala, capital da República de Uganda e leva o nome de Zika por causa de floresta homônima na região. Há séculos o vírus zika circula na África, afirma Nuno Faria, autor principal do estudo, da Universidade de Oxford. “Nosso estudo evidencia a necessidade de maior vigilância em áreas conectadas por viajantes a regiões onde circulam o zika e outros vírus transmitidos por mosquitos”, reforça.

Trabalhando AfricaO trabalho na ÁfricaPara Renato Aguiar, descobrir que os casos de microcefalia identificados na África são relacionados a uma cepa do vírus que veio do Brasil é de grande importância, uma vez que mostra a relevância de se conhecer melhor o processo de mobilidade humana na dispersão de epidemias virais. Tendo os viajantes como hospedeiros, o vírus deu a volta ao mundo e retornou para a África, seu local de origem. Antes ele passou pela Ásia e chegou às Américas pelo Brasil.

Recém-chegado ao ICB UFMG, o pesquisador observa que seu grupo de pesquisa multicêntrico se reuniu ainda em 2015, quando começou a epidemia de zika no Brasil. “Isso levou à criação da primeira clínica de reabilitação e cuidados de crianças com microcefalia em Campina Grande, na Paraíba, criada pela doutora Adriana Melo, uma das pioneiras na identificação dos casos de zika no Brasil, e onde um dos casos de microcefalia de Angola está sendo acompanhado por meio de doações da ONG Fraternidade sem Fronteiras”, lembra.

O ARTIGO

Emergence of the Asian lineage of Zika virus in Angola: an outbreak investigation

Sarah C Hill, Jocelyne Vasconcelos, Zoraima Neto, Domingos Jandondo, Líbia Zé-Zé, Renato Santana Aguiar, Joilson Xavier, Julien Thézé, Marinela Mirandela, Ana Luísa Micolo Cândido, Filipa Vaz, Cruz dos Santos Sebastião, Chieh-Hsi Wu, Moritz U G Kraemer, Adriana Melo, Bruno L F Schamber-Reis, Girlene S de Azevedo, Amilcar Tanuri, Luiza M Higa, Carina Clemente, Sara Pereira da Silva, Darlan da Silva Candido, Ingra M Claro, Domingos Quibuco, Cristóvão Domingos, Bárbara Pocongo, Alexander G Watts, Kamran Khan, Luiz Carlos Junior Alcantara, Ester C Sabino, Eve Lackritz, Oliver G Pybus, Maria-João Alves, Joana Afonso*, Nuno R Faria

 

CONTATOS PARA IMPRENSA
Professor Renato Aguiar Santana - Departamento de Genética, Ecologia e Evolução do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)
(31) 3409 2895 ou <>


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