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Ilustração esquemática do microambiente tumoralIlustração esquemática mostra a complexidade do microambiente tumoral que, além das células nervosas, possui vasos sanguíneos, nervos e células a eles associadas | Arquivo Alexander Birbrair Um mapa microscópico do microambiente tecidual de tumores está revelando elementos que ampliam as possibilidades de tratar o câncer. O estudo, conduzido pelo professor do ICB Alexander Birbrair, descobriu que, no ambiente tumoral, os nervos sensoriais têm funções totalmente diferentes do conhecido papel de conduzir ao cérebro mensagens como dor, pressão e temperatura. “Percebemos que essas inervações não são apenas trilhos, mas exercem papel fundamental no começo e na progressão do câncer, bem como na formação de metástase ou no espalhamento das células cancerígenas”, explica o pesquisador.

O novo conceito sobre as inervações está em sintonia com a descoberta, relativamente recente, de que o tumor é muito mais complexo do que parecia, já que apenas cerca de 50% de seus componentes são células cancerígenas. No mesmo ambiente, há também células do sistema imune, como os linfócitos, células dendríticas, vasos sanguíneos e as próprias inervações, o que oferece vasto campo para outras formas de tratamento, diferentes da tradicional estratégia de eliminar as células de câncer.

Birbrair explica que, nos últimos 50 anos, as principais formas de tratamento baseiam-se em drogas que matam as células cancerígenas, como quimioterapia e radioterapia. O problema é que essa estratégia afeta também outras partes do corpo, acarretando diversos efeitos colaterais e até mesmo a morte de pacientes.

Novos alvos

Todo o trabalho tem por base o conhecimento minucioso do microambiente dos tecidos e da relação deles com as células que os compõem. “Por meio da fluorescência, podemos visualizar cada componente do tecido dentro do animal vivo e entender como ele se comporta. Também podemos desativar geneticamente uma célula, em um determinado tecido, em um momento específico, para entender o papel daquela célula e ver como o ambiente funciona sem ela”, relata Birbrair.

Desse mapeamento, estão surgindo informações novas e surpreendentes, como a existência de vários tipos de inervações no tecido tumoral. O maior alvo da equipe tem sido o sistema nervoso periférico, mais especificamente as chamadas células de Shwann, que abraçam e protegem os nervos. “Descobrimos que, dentro do tumor, as células de Shwann não estão associadas a inervações; elas desgrudam dos nervos e migram para os vasos sanguíneos, de onde tentam combater o tumor”, conta o pesquisador, que vislumbra a possibilidade de utilizar esse mecanismo no tratamento de câncer.

“Se tirarmos um tipo de inervação, só de dentro do tumor, o que acontece? Será que um bloqueio de ativação dos sinais elétricos nas inervações conseguiria alterar o crescimento do tumor?”, questiona Birbrair. Ele acredita que, após entender a função de cada componente do tecido tumoral, será possível desenhar drogas farmacológicas capazes de executar o bloqueio do crescimento tumoral. A pesquisa tem, portanto, dois objetivos principais: identificar os mecanismos por meio dos quais o crescimento do tumor é regulado pelo sistema nervoso periférico e criar maneiras de manipulá-lo para inibir o desenvolvimento tumoral. Os experimentos têm sido feitos com modelos animais, células em cultura e biópsias de humanos.

(Boletim UFMG 2.038)

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