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Pequenas alterações ambientais, como mudanças de temperatura, umidade e precipitação atmosférica, podem ser percebidas graças ao ciclo reprodutivo de um musgo da espécie Octoblepharum albidum, segundo concluiu pesquisa realizada no Departamento de Botânica do ICB, pela professora Adaíses Maciel Silva e pela bolsista Miriam Pereira, de Iniciação Científica Júnior.

As pesquisadoras focaram seu estudo nos estágios de desenvolvimento de uma estrutura fundamental no processo reprodutivo desse tipo de planta, os esporófitos, e relacionaram esse desenvolvimento com as condições climáticas. Segundo Adaíses Maciel, o Octoblepharum albidum é uma briófita que tem a chuva como principal fator de controle de seu ciclo de vida. “Coletar esse musgo na época chuvosa e não encontrar esporófitos maduros é sinal de que o nível de precipitação não foi suficiente para estimular o desenvolvimento dessa estrutura reprodutiva e que houve uma pequena variação climática”, explica a professora.

Os três estágios iniciais do desenvolvimento do esporófito da planta observada no estudo, determinados por Mirian Pereira, ocorreram predominantemente na estação seca do ano, diferentemente da maturação, que se deu na estação chuvosa. “Isso revela que a produção de esporófitos é sazonal, regulada pelo período de chuva no decorrer do ano”, afirma a bolsista.

Além disso, as pesquisadoras observaram um pico de aborto dos esporófitos em dezembro e janeiro, meses caracterizados pelo chamado “veranico”, em que há uma estiada no período chuvoso, com dias de muito sol e calor. O estudo mostra que os abortos dos esporófitos ocorrem por causa de sua sensibilidade à ausência de água nos estágios iniciais do ciclo de vida, sendo mais vantajoso para a planta eliminar o esporófito e manter a integridade do gametófito.

Octoblepharum albidum
Musgo vive tanto em ambientes úmidos quanto em lugares secos

Foto: scott.zona/Flickr/Creative Commons

Em todos os lugares

O termo “briófitas” se aplica a um grupo de plantas pequenas, de diferentes espécies, que crescem tanto em ambientes úmidos quanto em lugares mais secos, vivendo sobre o solo, nos troncos de árvores e em rochas. Apesar de não produzirem flores, frutos ou sementes, nem possuírem vasos condutores de seiva, apresentam grande diversidade e são bem distribuídas por todo o planeta. São encontradas em florestas úmidas e até em lugares de clima mais hostil, como na gelada e seca Antártida. Essas plantas têm estruturas com funções semelhantes às folhas, caules e raízes, denominadas filídios, caulídios e rizoides, respectivamente.

A reprodução de briófitas envolve uma alternância de gerações – existe uma geração de vida mais duradoura (gametófito), responsável por produzir os gametas, e uma geração de vida mais curta (esporófito), na qual os esporos são produzidos. Os esporófitos surgem da fecundação dos gametas masculino e feminino. Já os gametófitos nascem dos esporos. Todas as plantas mantêm um ciclo reprodutivo que envolve alternância de gerações, porém, nas briófitas, esse ciclo ocorre com um gametófito de vida longa sustentando os esporófitos de vida curta.

* Mateus Fernandes, autor desta matéria, é aluno de graduação do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da UFMG e participa voluntariamente do projeto Correspondentes, junto com outros cinco estudantes. Trata-se de ação extensionista, que integra o Projeto de Suporte de Comunicação Institucional do ICB e visa identificar estudantes de graduação com espírito investigativo, incentivando-os a produzir textos, áudios ou vídeos sobre temas científicos no formato jornalístico. Sob orientação do jornalista Marcus Vinícius dos Santos, da Assessoria de Comunicação Social e Divulgação Científica do ICB, cada correspondente escolhe o tema e os principais aspectos a serem destacados, entrevista um pesquisador, interpreta a informação e redige o texto.