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Estudo do ICB feito em camundongos indica que dieta rica em fibras alivia sintomas associados a essa doença inflamatória genética

Uma dieta rica em fibras introduzida em camundongos pela professora Angélica Thomaz Vieira, do Departamento de Bioquímica e Imunologia do Instituto de Ciências Biológicas (ICB), reduziu, nesses animais, a resposta inflamatória induzida por cristais de ácido úrico, o que indica benefícios para o tratamento da artrite gotosa e alívio de seus sintomas.

A gota é uma doença inflamatória genética, que causa dor intensa, inchaço e vermelhidão nas articulações. Se não for tratada, pode resultar na destruição da articulação e em sérias restrições na qualidade de vida dos doentes.

Desenvolvida em modelo animal, a pesquisa mostra evidências de que dietas ricas em fibras ou ácidos graxos de cadeia curta promoveram a prevenção da inflamação induzida pelo aumento de cristais de ácido úrico na articulação do joelho. Os camundongos tratados com uma dieta rica em fibra ou ácidos graxos de cadeia curta tiveram uma melhor resposta à inflamação.

Os animais foram alimentados durante 14 dias com uma dieta enriquecida de um tipo de fibra solúvel (Pectina) muito encontrada na casca de frutas cítricas e alguns legumes. Foi feita uma avaliação da inflamação no joelho dos camundongos depois da indução da gota, que se deu com a injeção de cristais de ácido úrico no local, e 16 horas após essa injeção. Os animais tratados com fibras tiveram uma redução nos sinais clínicos e nas inflamações comparado com outros animais não submetidos a esse tipo de alimento.

“Os tratamentos conseguiram levar à resolução da resposta inflamatória prevenindo a lesão e disfunção tecidual – alteração no tecido que o impede de exercer suas funções e que pode provocar o desenvolvimento de outras doenças –, melhorando, inclusive, sinais clínicos como a dor” esclarece Angélica Thomaz. Com esse trabalho, ela recebeu os prêmios Thereza Kipnis, da Sociedade Brasileira de Imunologia, e emberton, de incentivo a pesquisas direcionadas à saúde e ao bem-estar da sociedade, promovido pela The Coca-Cola Company. A pesquisadora foi orientada pelo professor Mauro Teixeira.

Metabólitos

O estudo também avalia a importância das substâncias resultantes do metabolismo das bactérias do intestino, os metabólitos, na redução dessas doenças, pois podem atingir a corrente sanguínea e promover a morte programada de neutrófilos – tipo de célula/glóbulo branco do sistema imune – diretamente relacionados com a inflamação na gota.

"Compreendendo a maneira como os alimentos interagem com a nossa microbiota, será possível criar dietas ou estratégias bioterapêuticas que poderão ajudar pessoas com doenças inflamatórias diversas, e ainda promover sua saúde e bem-estar”, afirma a pesquisadora, lembrando que, no caso específico da gota, sua incidência tem crescido em países com dieta alimentar fortemente assentada nos chamados fast foods, alimentação com baixo teor de fibras e alto teor de gordura

Embora congênita, pois a pessoa já nasce com predisposição a desenvolvê-la, a gota tem na alimentação um importante fator de potencialização. Com base na compreensão do processo que associa alimentação com redução da resposta inflamatória, os pesquisadores do ICB pretendem propor estratégicas bioterapêuticas de reorganização das bactérias da microbiota – grupo de bactérias benéficas no intestino humano – por meio de dietas ricas em fibras, probióticos e pós-bióticos.


Doença dos reis

Conhecida há mais de quatro mil anos, a gota também já foi chamada de doença dos reis, porque as cortes organizadas festas ricas em carnes e álcool, dois importantes fatores de risco para a doença.

A artrite gotosa é uma doença reumatológica, inflamatória e metabólica que atinge uma ou mais articulações, quase em suas extremidades, como dedos dos pés, joelhos, cotovelos ou tornozelos. Ela afeta principalmente os homens – incidência 20 vezes superior à das mulheres em 95% dos casos – a partir dos 50 anos. Mulheres são afetadas geralmente após a menopausa.

Uma das causas da gota reside no fato de algumas pessoas nascerem sem um mecanismo enzimático responsável pela excreção do ácido úrico pelos rins. A produção excessiva de ácido úrico pelo organismo, em decorrência de um “defeito” enzimático, ou o uso de medicamentos, como diuréticos e o ácido acetilsalicílico, também podem levar à diminuição da excreção renal do ácido úrico.

A maioria dos casos de artrite gotosa é provocada por falhas na eliminação ou na produção do ácido úrico. Não há tratamento definitivo, e a alimentação adequada pode se tornar uma grande aliada, amenizando os sintomas da doença.

 

Onde ler

O artigo “Dietary fiber and the short-chain fatty acid acetate promote resolution of neutrophilic inflammation in a model of gout in mice” está disponível em:
http://www.jleukbio.org/content/101/1/275.long

 

Redaçâo: Bárbara Freitas. Aluna da Faculdade de Letras da UFMG e colaboradora na Assessoria de Comunicação Social e de Divulgação Científica do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da UFMG, junto ao Correspondentes. Integrante do projeto de Suporte de Comunicação Institucional ao ICB, o objetivo da iniciativa é identificar estudantes de graduação com expresso espírito investigativo e orientá-los na produção de textos, áudios ou vídeos no formato jornalístico, como forma de promover a cultura científica.

 

CONTATOS PARA A IMPRENSA
Profa.  Angélica Vieira – Departamento de Bioquimica e Imunologia do Instituto de Ciências Biológicas da UFMG.
(31) 3409 2633

 

 

 

Assessoria de Comunicação Social e Divulgação Científica
Instituto de Ciências Biológicas da UFMG
Jornalista: Marcus Vinicius dos Santos
Contatos: (31) 3409 3011)

http://www.icb.ufmg.br

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