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Ilustração1 Trichechus hesperamazonicus por Marco Anacleto 1A ilustração científica reconstrói a aparência da espécie em vida - por Marco Anacleto, do Centro de Coleções Taxonômicas do ICB UFMG

A ilustração científica reconstrói a aparência da espécie em vida - por Marco Anacleto, do Centro de Coleções Taxonômicas do ICB UFMG

 

Ao contrário do que muita gente pode pensar o simpático peixe-boi não é um peixe. É um mamífero aquático, que vive em águas rasas e pertence à família dos Triquequídeos, ou Trichechidae. Sabe-se pouco sobre a evolução dessa família, que atualmente é composta por três espécies: o peixe-boi-marinho, que habita Flórida, costa do Caribe e costa brasileira (Trichechus manatus); o Amazônico, que habita o rio Amazonas, no Pará e Amazonas (Trichechus inunguis); e o Africano, que vive nos rios e nas áreas costeiras da África Ocidental (Trichechus senegalensis).

Mas, um estudo desenvolvido junto aos Laboratórios de Evolução de Mamíferos e de Paleozoologia do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da UFMG descobriu uma quarta e nova espécie fóssil de peixe-boi que foi nomeada como Trichechus hesperamazonicus, ou peixe-boi do oeste da Amazônia. Primeiro registro de uma espécie fóssil do gênero Trichechus. Os resultados da pesquisa foram apresentados na revista científica Journal of Vertebrate Paleontology, da Sociedade de Paleontologia de Vertebrados dos Estados Unidos.

Segundo o professor Mario Cozzuol, do departamento de Zoologia do ICB e um dos autores da pesquisa, “é importante lembrar de que existem espécies fósseis da família Trichechidae, apenas não haviam espécies fósseis do gênero Trichechus. De qualquer forma, fósseis dessa família são de maneira geral raros”, esclarece. Todos os outros fósseis até então conhecidos são atribuídos a espécies viventes. Os cientistas já tinham descoberto fósseis da família Trichechus na Amazônia, mas nenhum era de uma espécie extinta.

COMO FOI O ESTUDO

Os cientistas da UFMG analisaram mandíbulas e fragmentos de crânio fossilizados que compartilham características com as três espécies atuais de peixe-boi, ao mesmo tempo que apresentam uma série de características únicas, como um amplo espaço entre a série dentária inferior e a porção posterior da mandíbula, o que pode indicar músculos mastigatórios mais desenvolvidos do que nas espécies atuais.

Especialista em mamíferos fósseis, Mario Cozzuol afirma que o animal viveu em Rondônia, na bacia Amazônica, em uma região de corredeiras que atualmente não é mais um ambiente propício para a vida dessa espécie de peixe-boi. Uma série de análises estatísticas confirmaram que a nova espécie é distinta das espécies que existem atualmente, apresentando um mosaico de características que é refletido em sua posição incerta na árvore evolutiva dos peixes-boi.

Ilustração2 Reconstruction por Fernando Perini ICB UFMGMontagem de fósseis usando silhuetas para reconstruir o crânio da nova espécie descrita na UFMG - por Fernando Perini, professor do departamento de Zoologia do ICB UFMGOutro autor é o professor Fernando Perini, do mesmo departamento. Ele ensina que o Trichechus hesperamazonicus viveu há cerca de 40 mil anos, no final do período Pleistoceno - era geológica situada no período Quaternário da era Cenozóica, entre 2,588 milhões e 11,7 mil anos atrás.

Perini conta que a nova espécie habitava lagos e rios de águas calmas que atravessavam a floresta, similar a certos ambientes ainda existentes na Amazônia. “Quando o regime de águas do rio mudou, ainda no final do período Pleistoceno, e as águas calmas foram substituídas por águas mais caudalosas, a espécie desapareceu, deixando o peixe-boi Amazônico como o único representante do grupo na Amazônia”, esclarece.

Na IMAGEM ao lado, Fernando Perini fez uma montagem dos fósseis usando silhuetas para reconstruir o crânio da nova espécie descrita na UFMG.

 

CCT Ciência

A descoberta foi o tema da primeira edição do "CCT Ciência", publicação de divulgação científica do Centro de Coleções Taxonômicas do Instituto de Ciências Biológicas da UFMG. Disponível na página do CCT (Acesse Aqui)

LEIA O ARTIGO

A new species of Trichechus Linnaeus, 1758 (Sirenia, Trichechidae), from the upper Pleistocene of southwestern Amazonia, and the evolution of Amazonian manatees.
Fernando A. Perini, Ednair R. Nascimento, Mario A. Cozzuol.
Journal of Vertebrate Paleontology, 2020: e1697882
DOI: 10.1080/02724634.2019.1697882

 

Redação: Marcus Vinicius dos Santos - Assessoria de Comunicação e Divulgação Científica do Instituto de Ciências Biológicas da UFMG

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