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Das 2018 espécies de plantas produtoras de sementes registradas na Lista Vermelha da Flora Brasileira como vulneráveis, ameaçadas de extinção ou criticamente ameaçadas, apenas 26 estão sendo preservadas “fora de seu habitat natural”, ou ex situ, um método de conservação que consiste na manutenção de representantes de diversas espécies em um único lugar, fora de sua área de ocorrência.

Fernando Silveira e  Alberto Teixido - "A meta 8 é necessária e possível, com a união dos pesquisadores"A constatação resulta de uma série de estudos realizados por pesquisadores do departamento de Botânica do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da UFMG, que publicaram um artigo alertando para a necessidade de pesquisadores e poder público unirem forças para reverter essa situação e preservar a biodiversidade brasileira.

A preservação ex situ garante não só a proteção da diversidade, por vários séculos, mesmo de espécies distribuídas em biomas diferentes, como também facilita o desenvolvimento de pesquisas e de métodos de melhoramento genético.

A pesquisa da UFMG focou na Meta 8, estabelecida pela ONU em seu programa “Estratégia Global para a Conservação das Plantas” (ou GSPC, na sigla em inglês), o qual determina que até 2020 os países conservem 75% das sementes de plantas classificadas em algum grau de perigo nas listas vermelhas.

Estas listas seguem critérios adotados pela União Mundial para a Conservação da Natureza (IUCN) e representam uma parte essencial da política de Estado para garantir que flora, fauna e micro-organismos do país sejam protegidos.

O fato é que apenas três instituições brasileiras e uma do Reino Unido armazenam sementes dessas 26 espécies nacionais ameaçadas, o que significa que apenas 1,3% da meta 8 foi realizada.

“Isso se deve a um contexto social e histórico que favoreceu a criação de instituições que conservam e estudam apenas sementes de plantas com algum valor econômico, desta forma negligenciando espécies que não são de valor comercial”, afirma Fernando Silveira, coordenador da pesquisa.

Ainda segundo o pesquisador, existem muitas lacunas no conhecimento sobre a fisiologia e a ecologia das sementes. Conhecer qual tipo de semente as plantas produzem permitirá que elas sejam devidamente armazenadas e conservadas.

“As sementes ortodoxas são tolerantes à dessecação e podem ser guardadas convencionalmente a -20°C. Já as sementes recalcitrantes não podem ser dessecadas e requerem nitrogênio líquido na metodologia de conservação”, explica Alberto Teixido, um dos autores da pesquisa, destacando a importância de novos estudos para conhecer como essas sementes serão armazenadas, sendo este o principal entrave para alcançar a meta.

O trabalho ainda buscou comparar os custos de metas já realizadas com os recursos econômicos necessários para que a meta 8 seja concluída, incentivando pesquisadores e políticos a unirem forças e recursos para realizar os objetivos da meta até 2020.

Metas

Para Alberto Teixido, embora as dificuldades sejam muitas - econômicas, técnicas, científicas, políticas, dentre outras –, é possível e imprescindível que a meta 8 seja alcançada no prazo determinado. Segundo ele, o Brasil possui recursos econômicos suficientes e uma boa infraestrutura para a conservação e o estudo de sementes.

“Precisamos de bancos de sementes de plantas, por motivos morais e éticos que nos levam a conservar a natureza. Nosso trabalho é mostrar as lacunas e as diretrizes marcadas para tentar do melhor jeito possível alcançar a meta 8”, afirma o pesquisador, para quem a atual destruição da biodiversidade do planeta - devido à poluição, mau uso do solo e outras causas -, exige que sejam desenvolvidos novos métodos de preservação dos recursos naturais para reduzir e até reverter o impacto causado pelo homem no planeta.

As metas 1 e 2 do programa “Estratégia Global para a Conservação das Plantas” são as bases para que todas as outras metas do GSPC sejam alcançadas, e o Brasil conseguiu realizá-las em um tempo relativamente curto, com um investimento econômico baixo. Essas duas metas demandavam que a diversidade de plantas fosse bem compreendida, documentada, reconhecida e classificada em alguma Lista Vermelha de Flora. O custo para a realização da meta 8 é bem similar ao das metas 1 e 2 e representa apenas 0,4% do orçamento anual do Ministério do Meio Ambiente do Brasil.

"Se o governo e os cientistas unirem forças a meta 8 será atingida”, reforça Silveira.



Mateus Fernandes é aluno do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da UFMG e participa voluntariamente do Correspondentes, projeto cujo objetivo é promover a divulgação da cultura científica. A ação extensionista integra o Projeto de Suporte de Comunicação Institucional do ICB e consiste em identificar estudantes de graduação com expresso espírito investigativo e incentivá-los a produzir textos, áudios ou vídeos, no formato jornalístico.

Sob orientação do jornalista Marcus Vinicius dos Santos, da Assessoria de Comunicação Social e Divulgação Científica do ICB, o correspondente escolhe um tema a ser abordado, identifica os principais pontos a serem destacados, entrevista um pesquisador, interpreta a informação e redige o texto. Com isso, espera-se contribuir para a ampliação dos objetivos sociais da Universidade Pública, preconizados pelas políticas nacionais de ensino e extensão, assim como de popularização da ciência.

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