Menu

Médico, doutor em Ciências Biológicas na área de Fisiologia e Farmacologia, Dalton Luiz Ferreira Alves foi responsável pela formação de milhares de profissionais das áreas Biológicas e da Saúde. Marido da professora Janetti Francischi, também sua colega do Departamento de Farmacologia, ele faleceu no dia 23 de maio de 2016, vítima de acidente de trânsito, num trajeto que fazia com certa regularidade.

O trabalho conjunto e o cuidado com o outro eram traços marcantes deste professor, a quem o amigo Paulo Sérgio Lacerda Beirão, do Departamento de Bioquímica e Imunologia, fez questão de homenagear com uma mensagem originalmente publicada na página da Sociedade Brasileira de Farmacologia e Terapêutica Experimental, e que reproduzimos aqui.

Mesclando registro histórico, gratidão e amizade, o texto também faz lembrar que as organizações são feitas de pessoas, e o ICB somos cada um de nós. Acompanhe. Abaixo você poderá deixar um comentário e complementar esta homenagem.

 

Homenagem a Dalton Luiz Ferreira Alves (1948 – 2016)

Um acidente rodoviário tirou o Dalton do nosso convívio. O Dalton era um farmacologista da velha estirpe, com sólida formação em química, físico-química, fisiologia, estatística e farmacologia. Não se contentava com meras observações – queria conhecer os mecanismos. Tinha grande cultura, e cultivava os clássicos da literatura.

Formado em medicina pela UFMG em 1971, foi logo após a formatura para Ribeirão Preto para fazer o mestrado em Farmacologia, com Maurício Rocha e Silva. Todo o rigor científico característico do Dalton, iniciado com Fernando Alzamora, foi cultivado nessa relação.

Ao longo de sua carreira, o Dalton se tornou um mestre em ensaios biológicos e sabia usar com enorme competência seus conhecimentos em estatística. Conhecimentos esses que ele compartilhava de forma muito generosa.

Qualquer pessoa que precisasse dosar alguma substância com atividade biológica podia encontrar com o Dalton uma sugestão de um ensaio biológico. Na maioria das vezes ele não ficava apenas na sugestão, e acabava ajudando a pessoa a montar o ensaio.

Como ele tinha grande habilidade em mecânica, essa ajuda frequentemente avançava na construção de banhos de órgãos, transdutores, e muitos tipos de dispositivos necessários para o ensaio – até mesas antivibratórias. Isso sem condicionar a qualquer tipo de compensação ou coautoria.

A carreira do Dalton sofreu uma importante inflexão em 1974. A Direção do Instituto de Ciências Biológicas da UFMG (ICB-UFMG) constatou que havia uma grande lacuna na instituição devida à fragilidade do seu Departamento de Farmacologia. Era um departamento sem tradição de pesquisa e com um ensino muito pouco qualificado. À época surgiram algumas vagas para professores colaboradores (temporários). O ICB identificou no Dalton (e no Eduardo Queiroz) jovens com capacidade de iniciar uma inflexão positiva no departamento.

Ambos aceitaram o desafio e retornaram a Belo Horizonte antes de terem completado seus mestrados. Essa decisão foi muito boa para o departamento e para o ICB, mas ruim para a carreira do Dalton. Como ele era uma pessoa muito dedicada, seu trabalho em prol do departamento atrasou em muito seu doutoramento, que ele obteve apenas em 1999 por defesa direta de tese.

Mesmo sem o doutorado ele se dedicava intensamente ao ensino e à pesquisa, inclusive orientando alunos de mestrado e doutorado, sem poder, no entanto, figurar como orientador.

Em sua tese tratou do desenvolvimento de protocolos de padronização de venenos e antivenenos ofídicos, assunto ao qual se dedicou a partir da crise dos antivenenos ocorrida no Brasil na década de 80, e no qual se tornou referência mundial.

O Dalton deu uma contribuição fundamental para a criação da Biobrás, porque foi ele quem fez os ensaios e estabeleceu todo o protocolo de ensaio biológico que padronizou a insulina que veio a ser produzida pela empresa. Na pesquisa básica, ele fez a importante identificação e determinação de mecanismos de ação de compostos da classe vouacapano, que ele extraiu de sementes de sucupira branca.

Mas, em minha opinião, o traço mais marcante do Dalton era sua enorme generosidade. Ele era capaz de interromper o seu trabalho para ajudar outras pessoas, de colegas a estudantes da graduação. Como ele tinha uma enorme cultura científica (um scholar, nas palavras do prof. Carlos Diniz), ele era constantemente solicitado.

Mesmo pessoas que posteriormente vieram a prejudicá-lo foram beneficiadas pela sua generosa assistência e acolhida no departamento de Farmacologia. Da minha parte, também me beneficiei de sua generosidade e inteligência, e mais ainda de sua amizade. Tornamo-nos compadres.

O Dalton deixa viúva a professora titular de Farmacologia Janetti Nogueira de Francischi. Deixa também quatro filhos e muita saudade entre as pessoas que conviviam com ele.

 

Paulo Sérgio Lacerda Beirão
Prof. Titular do Departamento de Bioquímica e Imunologia
Instituto de Ciências Biológicas
Universidade Federal de Minas Gerais

 

 

Leia também

Amigos (Blog Vereda Saúde / 24/05/2016)

 

Pesquisar

Instagram Facebook Twitter YouTube Flickr
Topo