Revista de Psicofisiologia, 2(1), 1998

Sobrevôo: da ontogênese, passando pela infância e se detendo na velhice

1) INTRODUÇÃO

1.1) Como o cérebro se configura num sistema tão fascinante, tão complexo e ao mesmo tempo tão misterioso e intrigante para o homem.

O cérebro é uma matéria mole e pesa cerca de 1,3 kg. Por meio de um microscópio eletrônico, é possível ver que ele parece um incrível emaranhado de fios, pelos prolongamentos de seus 100 bilhões de neurônios. Estudos recentes mostram que eles são capazes de se multiplicar 250 mil vezes por minuto nos dois primeiros meses de gestação, a partir das células germinativas. Mas provavelmente metade morre antes de o bebê nascer, como se apenas os mais sociáveis, aqueles que se comunicam direito, pudessem seguir em frente.

A maioria dos neurônios dos 400g de massa cinzenta de um recém-nascido durarão toda a vida, remanescentes de muitos outros que desaparecerão. Entretanto as conexões ainda não estão totalmente desenvolvidas, são apenas incipientes e sofrerão enorme transformação. A grande diferença de peso entre o cérebro de um adulto e o de um bebê vem exatamente desse fato. A rede de ramificações ativarão e tornarão o cérebro cada vez mais complexo, vão sendo construídas no dia-a-dia, no início pelas programações genéticas, mas a seguir pelas exigências, pelos desafios e pelos estímulos. O grande desenvolvimento macroscópico geneticamente programado ocorre na infância entre o nascimento e os quatro anos de idade, mas continua marcante até os 18 anos. No entanto o desenvolvimento microscópico, das redes neurais, continua toda a vida em função da vida intelectual e de atividades físicas (Pimentel-Souza, 1981).

No início da formação cerebral, as células nervosas são minúsculas. A distância entre elas, enorme, muitas vezes sem construir um contato, dentro dum plano estrutural, que viremos a herdar. A célula só se constitui um neurônio depois de alcançar o seu destino, ou seja, encontrar um outro neurónio, com que se comunica. "As primeiras experiências da vida são tão importantes que podem mudar por completo a maneira como as pessoas se desenvolvem".

Há etapas definidas para o desenvolvimento do cérebro das crianças, e informam que a inteligência, a sensibilidade e a linguagem podem e devem ser aprimoradas no trabalho, na escola, no clube, em contato com a natureza e em casa, especialmente na intimidade de cada ser. O máximo que os determinantes genéticos fazem com o cérebro, depois de configurado, é dotá-lo da capacidade de sustentar a vida.

Sendo assim, na infância que são abertas as janelas de oportunidades que, uma vez exploradas, formarão adultos a partir de determinadas características, ou seja, na infância a criança desenvolve-se a possibilidade de se desenvolver uma interação sustentavelmente crescente na aprendizagem. Este momento é fundamental.