Revista de Psicofisiologia, 2(1), 1998

Panorama do sono e dos sonhos

5.1. Ação integradora dos núcleos supraquiasmáticos e influência no organismo

Os seres humanos retirados os sincronizadores ambientais, apresentam uma ritmicidade circadiana de 25 horas. As células nervosas do núcleo supraquiasmático aumentam sua atividade na luz e diminuem no escuro. Quando não há sinais sobre o rítmo claro/escuro, as células nervosas do núcleo supraquiasmático continuam a aumentar e diminuir sua atividade, mas agora obedecendo a um ritmo endógeno9, próprio do organismo.

Lesões no núcleo supraquiasmático tornam o animal arrítmico, perdendo a ritmicidade circadiana de múltiplas funções e abolindo a periodicidade do ciclo sono-vigília, mas não afeta a habilidade geral de dormir e acordar, que não é mais controlada por esse núcleo. Quanto aos primatas, inclusive humanos, além dos núcleos supraquiasmáticos, haveria pelo menos um outro oscilador circadiano central ainda não localizado, que seria responsável pela ritmicidade do cortisol, temperatura e sono paradoxal, entre outros.

Os núcleos supraquiasmáticos estão localizados na porção anterior do hipotálamo e imediatamente acima do quiasma óptico. Recebe informação da retina diretamente, sobre o ritmo claro/escuro do ambiente. Essa informações permitem uma sincronização do organismo com as 24 horas do dia geográfico.

Os neurônios do núcleo supraquiasmático possuem grande quantidade de receptores para melatonina. Tem-se proposto uma ação nesse núcleo, dependente da melatonina, hormônio sintetizado a partir da serotonina na glândula pineal e lá secretado, e indireta nos núcleos da rafe. A comunicação entre o núcleo supraquiasmático, a pineal e o restante do organismo é feita através da melatonina, inibida com a luz, que ajudaria a iniciar o processo do sono, e que já está sendo usada nos EUA como coadjuvante para induzir o sono, sem efeitos colaterais.

Os animais dividem as 24 horas do dia, destinando a cada período as expressões comportamentais mais adequadas. Essa adequação é altamente adaptativa, sendo necessária para a sobrevivência individual e da espécie. Apresentam-se dentro dessa divisão duas categorias bem definidas: vigília e sono. "De acordo com a distribuição de seus surtos de maior atividade nas 24 horas, os animais são classificados em diurnos, noturnos e crepusculares"5. O homem é um animal diurno.que se adapta mal ao turno noturno, havendo porém alguns mais matutinos, outros vespertinos e outros indiferentes, podendo alterar também no curso da vida.