Revista de Psicofisiologia, 1(1), 1997

A dor e o controle do sofrimento (I)

2.6) Nevralgia

Classificam-se em geral na categoria de dores nevrálgicas, vários sintomas dolorosas associados a lesões de nervos periféricos. As suas propriedades são essencialmente semelhantes às da dor do membro fantasma e da causalgia, e caracterizam-se por uma dor intensa e incessante, que é difícil de tratar pela cirurgia ou por outros métodos tradicionais. Entre causas de dores nevrálgicas citamos: infecções víricas dos nervos, degenerescência nervosa diabética, insuficiência circulatória periférica, carências vitamínicas e ingestão de venenos como arsênio. Praticamente todas as infecções ou outras doenças que lesem os nervos periféricos, mais especialmente as fibras grossas mielinizadas, podem ser causas de dor, dita nevrálgica.

A nevralgia pós-herpética tem duas características principais. A primeira é a importância notável do processo de somação de estímulos. A segunda característica é um atraso bem marcado entre a estimulação e o aparecimento da dor. Esta doença envolve uma combinação de patologias. É destruído um número considerável de fibras nervosas, presumindo-se que a sua destruição pode provocar um aumento da excitabilidade dos neurônios medulares.

A nevralgia do trigêmeo, também conhecida por "tic doloroso" tem como um dos aspectos mais notáveis o fato das estimulações ligeiras, e não estímulos intensivos, desencadearem crises paroxísticas. Não sabemos quase nada das causas dessa doença que ocorre habitualmente nos idosos, em países frios e predominantemente no lado direito da face.

As nevralgias exibem muitas das propriedades características da dor do membro fantasma e da causalgia. A notável somação da estimulação cutânea nas zonas hiperestésicas da pele, a intensificação da dor suscitada por estimulação auditiva súbita ou por distúrbios emocionais e os longos atrasos na percepção, são sinais que apontam para uma atividade anormal do sistema nervoso que se associa a toda patologia periférica. Seguramente que existem alterações dos nervos periféricos nestes sintoma. Contudo, estas alterações nem tudo podem explicar: a secção dos nervos apropriados, justamente no seu ponto de entrada na medula ou no cérebro, raramente alivia a dor. Os fatos sugerem então, que as alterações da atividade do sistema nervoso central, talvez iniciada por fatores periféricos, podem constituir a base da somação, do atraso, da persistência e da propagação da dor.