Revista de Psicofisiologia, 1(1), 1997

A dor e o controle do sofrimento (I)

2.4) Dor do membro fantasma em paraplégicos

A dor do membro fantasma em doentes paraplégicos é o mais misterioso de todos os fenômenos dolorosos.

Os paraplégicos mencionam três espécies de dor:

1- dor radicular: localizada no, ou próxima do nível da lesão medular;

2- dor visceral: que geralmente acompanha uma distensão da bexiga ou dos intestinos;

3- dor do corpo fantasma: que experimentam em zonas de completa ausência de sensibilidade.

Estes doentes queixam-se de dores em queimação ou picadas, nas partes do corpo situadas abaixo do nível da lesão e nas quais os estímulos sensitivos não provocam qualquer sensação. O começo da dor pode ser imediato, mas também pode ocorrer meses ou anos após a lesão. Nos casos mais graves pode persistir durante anos sem remissão. Embora os doentes estejam muitas vezes deprimidos, não há evidência de que a dor seja produzida por fatores psicológicos.

Em paraplégicos, mesmo mais do que em amputados, existe uma redução considerável da quantidade de influxos sensitivos enviados para as células da medula, acima do nível da lesão. Há razão para acreditar que essa perda de influxo provoca uma atividade anormal importante nas células medulares restantes. Esta atividade anormal é influenciada por influxos sensitivos restantes, por descargas do sistema nervoso autônomo e pela atividade cerebral. Enquanto que se pode atualmente aliviar a dor do membro fantasma, numa proporção considerável de amputados, modulando essas influências é, infelizmente, impossível ajudar os paraplégicos com a mesma facilidade.