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Os riscos ambientais dos transgênicos

Fabrício Rodrigues dos Santos, Rogério Parentoni Martins e Sérvio Pontes Ribeiro 


E2.jpg (2566 bytes) m entrevista publicada na edi- ção 1241 do BOLETIM, o profes- sor Vasco Azevedo afirmou que não há provas de que os alimentos transgênicos ofereçam riscos ao meio ambiente. Contestamos a afirmativa com os seguintes argumentos: 

1 - A Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), ao emitir parecer favorável à soja transgênica, dispensou o Estudo de Impacto Ambiental (EIA/RIMA). Segundo o professor Paulo Ferreira, da UFRJ, em seminário no ICB, o parecer do CTNBio foi condicionado a experimentos ao longo de cinco anos, o que contradiz o professor Vasco quanto à certeza da ausência de riscos. 

2 - Afirma também que o temor do impacto é fruto de uma questão ideológica. Há muitos ecólogos preocupados com efeitos ambientais dos transgênicos. Porém, o professor Vasco desconhece os aspectos ecológicos científicos desta preocupação. Além disto, a afirmativa de que os pesticidas já causaram muitos mais problemas ambientais deveria aumentar a preocupação com os transgênicos e não justificar o seu uso, como fez nosso colega. O cuidado que nunca se teve com os agrotóxicos resultou em vários danos ambientais conhecidos. O que está em jogo, no caso dos transgênicos, é o desconhecimento dos riscos ambientais da introdução de uma nova técnica. No caso específico da soja, o mais grave é que não se sabe nem o número exato e sequer onde os genes são inseridos. Desconhecer esses aspectos básicos é assumir riscos fora de nosso controle. 

3 - Do ponto de vista evolutivo, uma planta transgênica não é uma forma de melhoramento genético. Uma planta melhorada resulta de cruzamento, acasalamento entre variedades, o que causa aumento da variabilidade das características e seleção, quando se escolhe, dentre as variedades obtidas, as características que mais interessam. O melhoramento não produz nada de extraordinário e inesperado, como as mudanças genéticas que podem ocorrer com os transgênicos. 

4 - A respeito de vantagens dos transgênicos, não é aconselhável tanto ufanismo a ponto de subestimar os riscos potenciais envolvidos. 

5 - Em quase todas as discussões técnicas sobre os transgênicos, as questões social e política têm sido negligenciadas. Lembramos que a competência científica não redime o cientista da falta de uma visão social e política. Finalmente, a adoção de novas técnicas vinculadas a interesses econômicos imediatos deve ser vista com desconfiança e passar pelo crivo da sociedade organizada. 

*Professores do ICB e integrantes do Grupo de Estudos Interdisciplinares da UFMG