Evolução - evolvere - desdobramento - transformação

A palavra evolução foi primeiro usada por Lamarck, designada ao transcorrer dos estágios de desenvolvimento do feto. Darwin somente utilizou a palavra evolução nas suas últimas publicações e preferia a palavra "transmutacionismo" .

Não confunda evolução com progresso ou avanço. Darwin escreveu nos pés de páginas do manuscrito do "Origem das Espécies" o seguinte: Nunca escrever que um organismo é superior ou inferior.
Da mesma forma é inapropriado falar de espécies primitivas quando a comparação é feita entre espécies contemporâneas, que existem hoje. Em algumas situações pode-se falar de espécies que apresentam mais características primitivas, isto é, características que existiam no antepassado de grande parte das espécies de hoje.

No passado, Darwin foi em muitas circunstâncias acusado de plágio. Diziam que ele simplesmente sintetizou a idéia de vários cientistas de sua época. Na verdade, Darwin foi inovador e original em sua explanação da História Biológica da Terra, com a defesa de 2 teses em seu primeiro livro:
1- A descendência com modificação;      2 - A seleção natural.

Estas duas teses foram também elaboradas independentemente por Alfred Russel Wallace. Darwin foi incentivado a publicar seu livro a "Origem das espécies por meio da seleção natural" em 1859, após receber uma carta de Wallace expondo as mesmas conclusões. No entanto Darwin concretizou sua teoria com uma série de publicações posteriores, expondo detalhada e concisamente a evolução em vários campos: interações insetos e orquídeas, relações entre plantas e organismos decompositores, famílias de besouros, evolução humana, etc...

No entanto, como qualquer cientista, Darwin sofreu influências de vários outros pesquisadores precursores e contemporâneos.

Os seguintes tópicos foram discutidos na teoria de Darwin e tiveram algumas influências:

1] Transmutacionismo (transformação das espécies)
Na Grécia antiga, se formulou a idéia de que espécies eram entidades fixas, imutáveis. Platão, observando as variações dentro das espécies, concluiu que estas eram imperfeições, e o imutável seria a essência do organismo, idêntica para todos membros de uma mesma espécie. O essencialismo Platônico foi adotado pelo cristianismo.

A geração espontânea foi também uma hipótese muito popular até a época de Darwin, e até mesmo explorada por Lamarck.

Curvier apresentou uma teoria, o catastrofismo, que buscava explicar a presença de fósseis de animais hora extintos.

Erasmus Darwin (o avô) escreveu alguns ensaios sobre suas teorias transformistas, que foram lidas por Charles Darwin na adolescência, mas que pouco contribuíram para sua teoria evolutiva, já que C. Darwin na época era membro ortodoxo da igreja anglicana e criacionista. No entanto, C. Darwin disse que lembrara de seu avô assim que teve sua primeira idéia de que as espécies pudessem se transformar em outras.

2] Descendência comum (ancestralidade)

Lamarck (1809) apresentou sua teoria, na qual apareciam as primeiras idéias de origem das espécies, mas estas eram restritas a determinados grupos de animais e plantas, que no princípio eram derivados de diferentes eventos de geração espontânea.

Richard Owen utilizou anatomia comparada e introduziu os princípios de Homologia e Analogia. Asas de patos e colibris seriam homólogas, mas no entanto as asas de morcegos e borboletas seriam análogas a estas primeiras.

von Baer (1832) publicou sua "Teoria da Recapitulação" onde o desenvolvimento do embrião recapitulava os estágios anteriores das histórias das espécies. Então os arcos branquiais dos embriões de mamíferos seriam resquícios de sua vida aquática...
Ernest Haeckel (após a publicação de Darwin) renovou a "Teoria da Recapitulação" dizendo estar esta totalmente de acordo com os princípios de Darwin, publicando a chamada Lei Biogenética - Ontogenia recapitula a Filogenia

Darwin leu atentamente as obras do grande geologista e criacionista Charles Lyell (1832) a bordo do Beagle. Incorporando a teoria do "uniformitarismo", o qual a Terra estava em constante mudança, Darwin sincronizou a mudança geológica com a biológica, e passou a observar os fósseis como possíveis ancestrais dos organismos modernos.

3] Luta pela existência
Este aspecto abordado frequentemente na teoria de Darwin dizia respeito à competição inter e intra espécies. As primeiras idéias sobre o tema veio da leitura do ensaio de Malthus (1838), Principle of Population, onde se falava que em breve o mundo teria mais pessoas do que a quantidade de comida produzida. Se nascessem mais pessoas do que pudessem sobreviver, isto geraria uma alta competição na espécie humana.

4] Seleção natural
Lamarck (1809) apontava duas causas para a mudança evolutiva: direcionamento à perfeição (progresso) e capacidade de adaptação do organismo (uso e desuso). A primeira parte foi inteiramente discordante da teoria de Darwin, mas a possibilidade de influência do ambiente na herança foi também evidenciada na obra de Darwin. Na verdade, os mecanismos de herança não eram conhecidos (ver hereditariedade abaixo), e se imaginava que as chamadas gêmulas pudessem captar sinais do ambiente e transferi-los às próximas gerações.

No entanto, Darwin atribuiu como causa principal de mudança evolutiva, a seleção natural, que se baseava na ação do ambiente sobre variações previamente existentes, geradas aleatoriamente.

A seleção natural, parecida com a que Darwin publicara, foi abordada brevemente em alguns ensaios por Patrick Mathew (1831) e Charles Wells (1813), este último trabalhando sobre "raças" humanas. Darwin deu um sentido global, abrangente a todos os organismos, para o papel da Seleção Natural. Além disto, Darwin didaticamente, fez analogias entre os métodos de seleção artificial de animais domésticos e o princípio da seleção natural.

5] Seleção sexual
Aparentemente não houve precursores a abordarem este tema, mas Darwin e Wallace exploraram bastante o tópico para explicar a plumagem diferencial de machos e fêmeas em alguns pássaros. No entanto, Wallace não concordava com Darwin a respeito da escolha da fêmea se relacionar com a plumagem mais colorida dos machos, e somente considerava que estas eram selecionadas assim para proporcionar camuflagem.

6] Biogeografia
Alguns precursores, tais como Bufon e Gmelin, hipotetizaram múltiplos centros de criação das espécies no mundo e estas eram produto das condições da região onde estas se originavam. Uma série de zoologistas da época de Darwin acreditavam que as espécies se distribuíam a partir de um ponto de origem. Esta distribuição quando interrompida por uma barreira geográfica, levou Darwin a propor um modo de especiação alopátrica. No entanto Darwin parecia dar mais peso aos modos de especiação simpátrica, sem necessidade de isolamento geográfico.

Darwin, assim como Alfred Russel Wallace, utilizaram-se de extensa informação advinda de suas coletas de material biológico de diferentes regiões: América do Sul e Galápagos durante a viagem do Beagle por Charles Darwin (1831-1836) e na Amazônia e Arquipélago Malaio por A.R. Wallace (1844-1858). Os dois independentemente descobriram os princípios de especiação geográfica e seleção natural. 

7] Hereditariedade

O princípio das gêmulas de Hipócrates foi reformulado por Darwin com a Pangênese para explicar o mecanismo de herança por mistura de caracteres que poderia envolver algum direcionamento ambiental, tal como Lamarck sugeria. No entanto a maior parte da variabilidade de acordo com Darwin teria uma origem alheia ao ambiente, sendo este apenas o fator direcionador de características relacionadas à adaptabilidade do indivíduo que foram geradas ao acaso.

A Herança por Mistura, uma crença comum na época, dizia que em geral os filhos herdavam caracteres que seriam a média daqueles dos pais. Deste modo a variabilidade ia se perdendo a cada geração como muitos argumentavam, e em contrapartida Darwin sugeria que talvez o ambiente fizesse com que novas variações aparecessem em alguns casos, aumentando a variação que era perdida pela Mistura. No entanto esta variação seria ainda gerada ao acaso e não sendo para um determinado propósito como Lamarck sugeria.

Após a sétima edição do "Origem das espécies" a Pangênese recebeu maior ênfase, o que hoje é visto como resultado da perplexidade de Darwin em não conseguir explicar a hereditariedade e seu papel na Evolução, que apesar de ter sido explicada por Gregor Mendel em 1865, não foi reconhecida e divulgada até o ano de 1900. Para muitos, Darwin se tornou um pouco "Lamarckiano" com o passar dos anos. 
No entanto, apesar do desconhecimento de Darwin acerca da hereditariedade, os princípios evolutivos e o mecanismo de seleção natural são inteiramente compatíveis com a moderna visão da genética, a qual iniciou a fusão com a Teoria da Evolução em 1930, com estudos de genética das populações na chamada Síntese Evolutiva.



Veja também o ensaio (em inglês) do Talk-origins archive sobre os precursores de Darwin - Clique aqui