Os donos do mundo
Escritor americano revela com histórias espetaculares que os parasitas não são caronistas insignificantes – eles mandam
no planeta. Animais complexos, como os peixes e as aves – e até você –, obedecem às ordens desses minúsculos tiranos
Por Carl Zimmero
Infográficos Luiz Iria
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Peixe suicida

O manguezal de Carpinteria, na costa da Califórnia, está repleto de vida – são milhares de crustáceos, moluscos, peixes e aves alimentando-se uns dos outros. Do alto de um morro, o biólogo marinho Kevin Lafferty, da Universidade da Califórnia, em Santa Bárbara, Estados Unidos, observa a cena. O drama que ele enxerga é invisível a olhos destreinados. Mas, para Lafferty, o verdadeiro espetáculo do manguezal está dentro dos animais, na vida de seus habitantes microscópicos – os parasitas.
Nesse momento, uma ave agarra um caranguejo que sai da toca. “Acabou de se contaminar”, diz Lafferty. Ele olha para os caramujos. “Mais de 40% deles estão infectados”, afirma. “Na verdade, não são mais caramujos. São parasitas disfarçados.” Aponta para a constelação branca de fezes de aves ao longo da margem do rio. “O que você vê são apenas pacotes de ovos de vermes.”
Todas as espécies de vida livre no planeta têm pelo menos um tipo de parasita em seu interior e muitas, inclusive os seres humanos, têm vários. Um único sapo pode carregar nematóides nos ouvidos, filárias nas veias e fascíolas nos rins, bexiga e intestino. Um papagaio mexicano acomoda 30 espécies diferentes de ácaros só nas penas. Calcula-se que o número de parasitas – que podem ser protozoários, fungos, plantas, vírus, bactérias, insetos, platelmintos ou crustáceos – seja quatro vezes maior que o de não-parasitas.
A maioria das pesquisas realizadas no último século sobre o assunto estava ligada à luta contra os microorganismos causadores de doenças humanas, como a malária, a Aids e a tuberculose. Tirando eles, os parasitas vinham sendo ignorados. De fato, os cientistas os têm tratado com desprezo, considerando-os reles caronistas na estrada da vida. Mas pesquisas recentes mostram que eles talvez sejam tão importantes para os ecossistemas quanto os predadores no topo da cadeia alimentar. Alguns castram seus hospedeiros e passam a comandá-los, outros desligam o sistema imunológico de animais. Hoje, vários cientistas acreditam que os parasitas são uma força dominante – talvez a mais importante – da evolução. Meu livro Parasite Rex está cheio de histórias que comprovam essa tese. Conto três das mais impressionantes, a seguir.

> Lobo em pele de caranguejo

> Vodu na cabeça da formiga

> O dono do mangue


Novembro 2000