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Primatas podem ter surgido 20 milhões de anos mais cedo
 

Modelo estatístico revê árvore evolutiva e antecipa surgimento da linhagem humana

O ancestral comum dos primatas provavelmente tinha hábitos noturnos, habitava
árvores e se alimentava de frutos e insetos (arte: Nancy Klaud / Museu Field)

O grupo dos primatas, ao qual o homem pertence, pode ter tido origem há 85 milhões de anos, quando os dinossauros ainda habitavam a Terra, e não há 65 milhões de anos, como é comumente aceito. Com isso, a divergência entre chimpanzés e humanos teria ocorrido não há 5, mas há 8 milhões de anos. Essas estimativas são resultado de um modelo estatístico elaborado por matemáticos e biólogos ingleses e norte-americanos e foram publicadas em 18 de abril de 2002 na revista Nature.

O novo modelo estatístico leva em conta a existência de espécies das quais não há registros fósseis e, por isso, desafia os métodos convencionais de construção de árvores evolutivas. Os resultados obtidos pelo modelo se opõem a teorias amplamente aceitas sobre a evolução dos primatas, o que pode alterar a árvore evolutiva do grupo e antecipar o surgimento da linhagem humana.

O modelo resolveria discrepâncias em árvores evolutivas construídas por biólogos moleculares com base em datações fósseis. "Árvores evolutivas derivadas de registros fósseis não são confiáveis para o grupo dos primatas pois existem muitas lacunas nesses registros", esclarece à CH on-line Christophe Soligo, pesquisador do Museu de História Natural de Londres e co-autor do estudo. "Nossos cálculos indicam que conhecemos registros fósseis para apenas 5% de todos os primatas extintos."

Origem dos primatas de acordo com o novo modelo estatístico

O mais antigo fóssil de primata conhecido é datado em 55 milhões de anos. Segundo Soligo, a maioria dos paleontólogos admite a partir daí que os primatas não se originaram antes de 65 milhões de anos. "O procedimento comum é datar a origem de um grupo de acordo com a idade da camada geológica onde o fóssil foi escavado, adicionando então alguns milhões de anos", esclarece. Por registros fósseis são conhecidas apenas 396 espécies extintas de primatas, mas o novo modelo estatístico indica que teriam existido entre 8 e 9 mil espécies.

O modelo estima o período de tempo decorrido entre a época do fóssil mais antigo que se conhece e o ancestral comum mais primitivo de um grupo determinado. Também propõe o número provável de espécies extintas para um grupo definido. No caso dos primatas, as estimativas são embasadas no número de espécies fósseis conhecidas em cada camada estratigráfica e no total de 235 espécies vivas hoje.

A localização da origem dos primatas há 85 milhões de anos de acordo com o novo modelo estatístico implica que a divisão do supercontinente chamado Gondwana durante o Cretáceo provavelmente contribuiu para a divergência entre espécies desse grupo. A Gondwana -- que na teoria do geólogo alemão Alfred Wegener (1880-1930) seria um supercontinente formado a partir da divisão da Pangéia -- originou o que são hoje a América do Sul, África, Índia, Austrália e Antártida. "Os animais que habitavam a Gondwana durante sua divisão foram isolados pelo oceano e as populações tomaram diferentes caminhos evolutivos", Soligo esclarece.

Raquel Aguiar
Ciência Hoje on-line
13/05/02