Revista de Psicofisiologia, 2(1), 1998

Reações autonômicas e hormonais

3) EXPLICAÇÕES PARA AS PERTURBAÇÕES PSICOSSOMÁTICAS

Foi sugerida a possibilidade de estados mentais perturbados traduzirem-se em atividade somática que proporciona uma base alterada da atividade subjacente, ramificando-se em uma quantidade de possíveis doenças.

Duas tendências se desenvolveram:

1) Incorporação do estresse ao longo de caminhos específicos

"Franz Alexander acreditava que na ocorrência de estímulo ou estresse específicos, estes expressar-se-iam na resposta específica de um órgão predeterminado. Referia-se ele ao alerta de luta e fuga do corpo contra o estresse." Acreditava que o conflito era um estresse e que o indivíduo poderia suprimi-lo e provocar reações, através do sistema nervoso autônomo. "Por outro lado, após a supressão do estresse a pessoa pode, manter suas respostas autônomas alertadas para a agressão ou fuga aumentadas ou suas respostas autônomas parassimpáticas retornadas para atividade vegetativa equilibrada. O alerta e tensão prolongados podem provocar perturbações fisiológicas e eventual patologia dos órgãos e vísceras". Pessoas diferentes desenvolvem patologias diferentes provocadas por essas perturbações fisiológicas.

Essa tendência sofreu críticas, pois não considerou o papel do sistema nervoso voluntário na gênese das perturbações psicossomáticas, considerando conflitos inconscientes fixos como causas das perturbações. Além disso, admitia que certos conflitos ou estresses psicológicos tinham acompanhantes específicos, o que não foi experimentalmente comprovado. Mas, não foi possível até agora prever uma doença a partir de um conflito e vice-versa.

Portanto, apesar da teoria de Alexander ser uma das linhas teóricas mais fortes no campo das perturbações psicossomáticas, ela baseia-se em hipóteses praticamente sem validação e em suposições questionáveis.

2) Incorporação não-específica do estresse

Defende a teoria de que a ansiedade generalizada cria pré-condições para uma quantidade de perturbações não necessariamente predeterminadas.

Parece que existem 4 tipos de reação ao estresse:

  1. Normal à alerta seguido por uma ação de defesa;

  2. Neurótica à alerta gera ansiedade tão grande que a defesa se torna inútil;

  3. Psicótica à o alerta pode ser mal percebido ou é ignorado;

  4. Psicossomática à há uma falha na defesa e o alerta é traduzido em sistemas somáticos provocando alterações nos tecidos do corpo.

Essa tendência da medicina psicossomática irá investigar o que ocorre com um indivíduo, de modo não-específico, quando esse é confrontado com um estresse.

Um dos pesquisadores mais ilustres desta tendência é Hans Selye. Ele acreditava que o eixo hipofise-adrenorcortical reage a vários tipos de estresse físico e psíquico com alterações hormonais que podem, finalmente, causar uma variedade de doenças orgânicas tais como artrite reumatóide e úlcera péptica. Selye via tais doenças como um subproduto da tentativa do corpo para adaptar-se a um estresse de qualquer origem.

Entretanto, as perturbações psicossomáticas podem ter ação específica.