Revista de Psicofisiologia, 2(1), 1998

Ontogenia: do nascimento à velhice

6.7) Epidemiologia do Mal de Alzheimer

O ex-presidente dos EUA Ronald Reagan, surpreendeu o país ao tornar público um drama pessoal e prever um futuro dramático para si próprio. Aos 83 anos, após sobreviver a um atentado a tiros e ao câncer, anunciou que sofria de uma doença neurológica incurável, o Mal de Alzheimer. "Começo agora a viagem que me levará ao ocaso de minha vida", afirmou Reagan, em carta escrita com o próprio punho e endossado pelo diagnóstico de cinco médicos.

A declaração do ex-presidente, que governou os Estados Unidos entre 1981 a 1989, chamou a atenção da opinião pública para uma doença que afeta hoje quatro milhões de americanos e que já vitimou outras personalidades, como o ex-líder chinês Mao Tse Tung e os atores Rita Hayworth e Johnny Weiss Muller, o Tarzan do cinema. No Brasil, calcula-se que um milhão de pessoas sofrem do mal. Nos Estados Unidos onde a enfermidade atinge 30% das pessoas com mais de 85 anos e provoca a morte de 100 mil a cada ano, os custos com internação hospitalar, interrupção no trabalho e pesquisa científica chegam a US$ 2 bilhões anuais. "Estamos diante de uma epidemia", afirma o neurologista Paulo Henrique Bertolucci, da Escola Paulista de Medicina. Não é exagero, como na maioria dos países a população morre com idade cada vez mais avançada, a incidência do Mal de Alzheimer aumenta na mesma proporção.

Um estudo recente feito no Canadá mostrou que, acima da faixa etária de 95 anos, praticamente a metade dos idosos é portadora do Mal de Alzheimer. "É uma moléstia que não poupa ninguém ", diz Ricardo Nitrini, chefe do Grupo de Estudo de Demência da Faculdade de Medicina da USP. Há casos raros em que ela se manifesta na meia- idade, por volta dos 40 anos. A partir da oitava década de vida, porém, a probabilidade o idoso sofrer do Mal de Alzheimer duplica a cada cinco anos.

O ex-presidente Reagan encontra-se ainda na fase inicial da enfermidade, quando a pessoa tem lapsos de memória e falta de concentração. "É como se o idoso percorresse o caminho inverso do bebê" compara Bertolucci. "Ele desaprende andar, sentar e sorrir. Depois não mastiga nem deglute os alimentos. "Antes, ao atingir essa fase, o paciente morria por inanição. Hoje, ele passa a ser alimentado através de sonda. O problema é que todo o idoso que permanece muito tempo deitado na cama termina contraindo infeção pulmonar. "Ele acaba morrendo de pneumonia", diz Bertolucci.

Até hoje, a medicina não descobriu a causa da doença. Os médicos já sabem, no entanto, que 70% dos casos são determinados geneticamente. Na fase inicial da doença, os remédios podem produzir efeitos benéficos em alguns pacientes." O problema é que não estancam o avanço inexorável do mal", diz Bertolucci.