Revista de Psicofisiologia, 1(1), 1997
 
 

4.2) A preocupação e seu controle

A preocupação é, num certo sentido, um ensaio do que pode dar errado e como lidar com isso. A tarefa da preocupação seria de apresentar soluções positivas para o perigo da vida, prevendo-os antes que surjam. Mas as preocupações crônicas, repetitivas, que se reciclam sempre, jamais se aproximam de uma solução positiva.

As preocupações parecem surgir do nada, são incontroláveis, gera um rumor constante de ansiedade, são imunes à razão e prendem o preocupado numa única e inflexível visão do tópico que o preocupa. Quando esse mesmo ciclo de preocupação se intensifica e persiste, beraiva o limite de seqüestros neurais completos, as perturbações da ansiedade: fobias, obsessões e compulsões, ataques de pânico. Em cada uma dessas perturbações, a preocupação se fixa de um modo distinto; para o fóbico, as ansiedades giravam em torno de uma situação temida; para o obsessivo, fixa-se em prevenir alguma temida calamidade; nos ataques de pânico, a preocupação se concentra num medo de morrer ou na perspectiva de ter o próprio ataque.

As preocupações quase sempre se expressam ao ouvido mental, não ao olho mental - quer dizer, em palavras, não em imagens. Um fato importante para o seu controle começou a ficar claro quando estudaram a preocupação como um tratamento para a insônia. A ansiedade, observaram outros pesquisadores, surge em duas formas: cognitiva, ou idéias preocupadas, e somática, os sintomas psicológicos da ansiedade, como suor, coração disparado, tensão muscular. Borkovec constatou que o principal problema dos insones não era o estímulo somático, o que os mantinha acordados eram os pensamentos intrusos. Eram preocupados crônicos, e não podiam parar de preocupar-se, por mais sono que tivessem. Eles se preocupam com uma ampla gama de coisas, a maioria das quais não tem a menor possibilidade de acontecer: vêem perigos na jornada da vida que outros jamais notam.

Contudo, os preocupados crônicos dizem a Borkovec que a preocupação os ajuda e se autoperpetua. O hábito de preocupar-se é reforçante. Há na preocupação, pelo menos para o cérebro límbico primitivo, alguma coisa de mágico. Como um amuleto que afasta um mal previsto, a preocupação ganha psicologicamente o crédito de prevenir o perigo com o que se está obcecado.

Enquanto as pessoas estão mergulhadas em tais pensamentos, parecem não notar as sensações somáticas da ansiedade que desencadeam o coração disparado, as gotas de suor, os tremores e a medida que a preocupação continua, na verdade parece eliminar parte dessa ansiedade, pelo menos no que se reflete às batidas cardíacas.

Berkovec descobriu alguns passos simples que podem ajudar mesmo o mais crônico preocupado a controlar o hábito. O primeiro passo é a autoconsciência, pegar os episódios preocupantes o mais perto do início possível. As pessoas aprendem métodos de relaxamento que podem aplicar nos momentos em que reconhecem o início da preocupação. Os preocupados também precisam contestar ativamente os pensamentos preocupantes; sem isso, a espraival de preocupação continuará voltando. Assim, o passo seguinte é assumir uma posição crítica em relação às suas suposições.

A combinação de atenção e saudável ceticismo atuaria, como um freio na ativação neural da preocupação a um nível de baixa ansiedade. A geração ativa desses pensamentos prepara os circuitos que inibem o impulso límbico de preocupar-se; ao mesmo tempo, a indução ativa de um estado de relaxamento contrabalança os sinais de ansiedade que o cérebro emocional envia para todo o corpo.

Para pessoas com preocupações tão severas que se tornaram fobia, distúrbio obsessivo-compulsivo ou de pânico, talvez seja prudente recorrer à medicação para interromper o ciclo mas, contenção dos circuitos emocionais por meio de terapia tornou-se necessário posteriormente para reduzir a probabilidade de que os problemas de ansiedade retornem quando se parar a medicação.