1) TESTE OBJETIVO
O rendimento cognitivo do curso foi importante nos 4 semestres estudados,
passando de 39,6% a 72,0% em média durante o curso. Os melhores
rendimentos ocorreram no 2o. e 3o. semestres experimentais, caindo no 4o.
considerado atípico. Cerca de 2/3 das questões tiveram variações
significantes (P menor do que 0,05; Chi Quadrado maior ou igual a 5), sendo
que em cerca de 20% pode-se atribuir a não significância ao
elevado conhecimento inicial no tema. Por assunto, o rendimento médio
final em ordem crescente mostrou melhores resultados em Motricidade, Sentidos,
Bioeletrogênese, Dor, Sono, Sistema Límbico e Condicionamento,
sendo Bioeletrogênese e Condicionamento, os de menor ganho por terem
maiores conhecimentos iniciais.
2) TESTES SUBJETIVOS
Em cada tópico analisado a informação entre
parentesis refere-se ao nome da categoria do respectivo domínio
afetivo (ou cognitivo), que os autores consideram em teste segundo a classificação
de Bloom e colaboradores (22,26). Com exceção do item "hábitos
mentais", que tem sentido próprio de cognição pessoal,
todos os outros foram classificados no domínio afetivo pelo seu
aspecto psicossocial.
A) Hábitos Mentais
Compreenderam 5 temas, dos quais dois tiveram consenso (baixa contradição): entendimento das principais idéias num texto (compreensão) e entendimento das relações entre si das principais idéias (síntese). Os outros três apresentaram alguma insegurança (contradição acima de 5%), nos seguintes assuntos: distinção entre afirmativas provadas cientificamente e em hipótese (síntese), familiarização com os termos de psicofisiologia (conhecimento) e explicação das idéias de psicofisiologia (compreensão).
O rendimento de todos os temas mostrou avanço significante
entre início e final do curso, variando de 30,4 a 82,1% a média
das questões afirmativas e negativas, com relativa estabilidade
nos 4 semestres. Do ponto de vista da classificação de Bloom
e colaboradores (26) formou-se uma grande disposição afetiva
para obter, e até mesmo criar, uma aprendizagem cognitiva em nivel
mais elevado, apesar de mais insegurança se encontrarem em categorias
mais baixas de aprendizagem.
B) Estrutura da Disciplina
Compreenderam 5 temas, dos quais dois tiveram consenso: necessidade do conteúdo dos pré-requisitos (acolhimento) e importância do conteúdo (valorização). Os outros tres apresentaram alguma controvérsia nos seguintes assuntos: conhecimento do conteúdo de pré-requisitos (valorização), abordagem criativa da matéria (filosofia de vida) e atualização da disciplina (acolhimento). É natural que menor insegurança se manifeste em categorias mais baixas de aprendizagem.
O rendimento de todas as questões mostrou avanço significante
entre início e final do curso, variando de 34,5 a 73,3% as médias
das questões afirmativas e negativas, atingindo melhor rendimento
nos 2o. e 3o. semestres experimentais.
C) Processos pedagógicos
Compreenderam 5 temas, das quais três tiveram consenso: interesse do professor (atenção), mobilização do aluno para análise e síntese (filosofia de vida) e adequação das avaliações (acolhimento). Os outros dois apresentaram alguma controvérsia, nos seguintes assuntos: concentração dos alunos nas próprias sensações e observações (filosofia de vida) e maior relevancia do conteúdo das avaliações (acolhimento).
O rendimento de todas as questões mostrou avanço significante
entre início e final do curso, variando de 36,0 a 83,8% a média
da questões afirmativas e negativas, mostrando melhor rendimento
no 2o. semestre experimental. Os alunos estiveram tranquilos quanto aos
processos pedagógicos, tendo alguma insegurança manifestada
na relevância de algumas questões de avaliação
e auto-conhecimento. É natural uma diferença de valorização
em questões de avaliação, onde certos assuntos mais
relevantes não se prestam a formulações precisas e
vice-versa.
D) Aplicação da ciência
Compreenderam 5 temas, dos quais dois tiveram consenso: aplicação do conhecimento científico na clínica (filosofia de vida) e aplicação de princípios causa-efeito no comportamento humano (filosofia de vida). Apresentaram alguma controvérsia os seguintes assuntos: segurança de aplicação do conhecimento científico dentro de certos limites de validade (valorização), influência de razões não naturais e não lógicas na mente (visão do mundo) e determinação de algumas funções mentais pelo cérebro (valorização). Verificou-se que questões mais específicas e de funções mentais superiores apresentaram mais insegurança.
O aluno mostrou-se muito receptivo neste assunto desde o início.
Por isso no final do curso só alguns itens mostaram avanços
significantes em alguns semestres, mascarados pela elevada aceitação
inicial (70,0%, a média da questões afirmativas e negativas),
o que tornou difícil apresentar diferença maior no final
(78,9%). Porém, merece destaque o tema, onde se discutia a base,
natural e lógica, das funções mentais, cujo rendimento
médio subiu de 31,7% no início para 54,4% no final, mostrando
avanço significante em 6 das 8 turmas nas duas questões pareadas.
E) Metaciência I
Compreenderam 5 temas, cujas generalizações foram as mais aceitas geralmente ligadas a funções mais periféricas do cérebro, das quais duas tiveram consenso: código de informação entre neurônios (valorização) e importância da existência da dor (valorização). Outras tres apresentaram controvérsia, nos seguintes assuntos: código cerebral para movimentos finos (valorização), operação integrada para o equilíbrio das vísceras quando estimuladas (valorização) e significado da representação dos objetos visuais no cérebro (valorização).
O rendimento para o aluno nas questões entre início
(82,3%) e final (87,9%) do curso mostrou um avanço não significante,
justificado pelos elevados índices iniciais, exceto em alguns semestres
em que houve avanço significante. Assim, apesar de alguma controvérsia,
a aceitação da aplicação do conhecimento científico
nessas funções mais periféricas do cérebro
já era admitido desde o início do curso e melhorou um pouco.
F) Metaciência II
Compreenderam 5 temas, cujas extrapolações foram as menos aceitas. Tratando de assuntos ligados à funções mentais ou psicológicas superiores no cérebro, uma só foi consensual: mediação das emoções pelo cérebro (valorização). As outras quatro apresentaram controvérsia, nos seguintes assuntos: localização do centro da decisão dos movimentos voluntários no cérebro (visão do mundo), influência no cérebro das emissões de fluidos sem energia (visão do mundo), ciência aborda parte ativa do sono (filosofia de vida) e alguma forma de dependência das funções mentais em relação ao cérebro (filosofia de vida).
Houve avanço significante no rendimento médio de 4
temas entre início (45,4%) e final (68,7%) do curso, à exceção
de alguns semestres, geralmente quando os índices do início
já eram elevados ou no último semestre atípico. Num
tema (localização do centro da decisão dos movimentos
voluntários no cérebro) o aumento não foi significante,
havendo mesmo uma ligeira diminuição em 4 turmas sobre 8.
Mesmo assim esses temas, abordando funções mais superiores
do cérebro, indicaram que houve um ganho médio considerável
pela maior aceitação da visão científica, apesar
de situar-se em terreno de controvérsia impossível de ser
resolvida pelo estado atual do conhecimento.
G) Filosofia de ciência
Foram destacadas tres temas entre as questões anteriores, que nos pareceram essencialmente de natureza de filosofia de ciência. Todos demonstraram falta de consenso final, abordando: influência na mente de razões não naturais e não lógicas (visão do mundo), influência no cérebro da emissão de fluidos sem energia (visão do mundo) e localização no cérebro do centro de decisão dos movimentos voluntários (visão do mundo).
Apesar da controvérsia elevada, houve no rendimento médio mais avanços por turma por tema, significativos (n=10) ou não (n=9), sobretudo nos dois primeiros temas, contra diminuições não significativas (n=5).
O rendimento médio foi de 33,3% no início e 54,6% no
final, notando-se uma diminuição acentuada do primeiro ao
último semestre experimental, considerado atípico. Nessa
parte foram abordadas questões de fronteira do conhecimento científico,
onde faltam fatos demonstráveis ou controláveis do funcionamento
cerebral ou da mente, por isso mesmo sujeitos a interpretações
controversas. São questões sem solução atual,
cuja tendencia de aceitação ou não dos princípios
de funcionamento só depende de maior ou menor credibilidade na possibilidade
de existência de entidades, que influenciam o cérebro, mas
sem nenhuma ligação natural e lógica com o cérebro.
A generalização de cada um é mais um ato de crença,
mas se pode concluir que o curso colaborou no sentido de aceitação
de uma psicologia mais científica do que filosófica e uma
maior maturidade do aluno para o estudo dessa disciplina. Deve-se salientar
que no início os alunos dividiam-se em dois grupos, metade com filosofia
de vida consolidada (empírico-dedutiva ou metafísica) e outra
metade não (neutros ou contraditórios). O ganho apresentado
foi sobre o grupo não consolidado.
3) MONOGRAFIA FINAL
Essa foi a parte mais criativa do curso, porque havia espaço motivacional para maior discussão, divisão de trabalho em grupo, pesquisa bibliográfica e entrevistas com especialistas, apresentação oral individual e a redação final de uma monografia, cujo tema era de predileção e condizente com uma "filosofia de vida" do grupo. Procurava-se também atingir os objetivos pedagógicos mais elevados no domínio cognitivo, exercendo até a categoria "avaliação" ao ter que selecionar e ordenar as partes mais importantes do conteúdo nas contribuições individuais, atribuindo valores aos trabalhos dos colegas.
Os resultados atingiram um rendimento final excelente no 3o. semestre experimental, após o qual houve um acentuado declínio devido à mencionada atipicidade ocorrida em 1992 e 1993.