PROCEDIMENTO:

Nessa experiencia pedagógica em Psicofisiologia aplicamos um processo interacionista e gradualista na construção do conhecimento dum jovem aluno já adulto, mas sujeito aos princípios psicofisiológicos da aprendizagem. A diferença com os estágios de aquisição do conhecimento da criança segundo Piaget é que os processos psicofisiológicos podem se suceder imediatamente um aos outros por não haver mais necessidade de esperar a maturidade biológica do aluno e a aquisição da linguagem (1,9,11). Trata-se de deixar o aluno realizar sua experiência pessoal, desde a percepção, passando pela operação concreta até a formal, construindo sua expressão sôbre a sua própria linguagem no nível em que ela se encontra.

Para facilitar a abordagem e para seguir melhor como cada aluno se desenvolvia e expressava nas discussões, a turma foi dividida em 4 grupos de 7 a 9 alunos selecionados por certa homogeneidade em filosofia de ciência, segunda a concepção (necessária, não necessária, ainda indefinida ou confusa) da existência de relação da gênese do conhecimento com a natureza e a lógica. Usou-se para isto o teste subjetivo inicial sobre "filosofia de ciência" descrito abaixo (12,13,14).

A ênfase da aprendizagem foi mais no desenvolvimento de etapas da inteligência e da linguagem específica e não na reprodução de um conhecimento formal, mal entendido na sua origem, o que não passa de memorização. Procurou-se abrir mais espaços à criatividade, centrando o ensino mais no aluno e diminuindo o número de horas de aulas expositivas (15,16,17,18,19). Num curso de 60 horas foram programadas 18 horas de ação direta do professor em forma de aulas teóricas e demonstrativas. Estas últimas foram reintroduzidas na disciplina usando o aluno como ajudante. Através de grupos de discussão foram explicitadas outras operações concretas de causalidade, extraidas de textos da literatura científica, decorrentes de experiências ou conhecimentos atuais. Todas as ocasiões foram aproveitadas para ilustrar com as experiências corporais próprias, relacionadas com o estudo de sensações, funções do cérebro, de músculos, de motricidade e autonômicas. Em toda atividade pedagógica foram ressaltadas as etapas da aquisição do conhecimento, mostrando claramente quais são os fatos efetivamente demonstrados e como se cria uma intrapolação.

Finalmente, exercícios de operações formais foram feitos em soluções de problemas, algumas vezes de forma original pelas tentativas de provável extrapolação dos conhecimentos científicos concretos. Chamamos esse exercício de Metaciência. Partimos da premissa de que na vida profissional o psicólogo encontrará frequentemente questões tão originais, que jamais foram abordadas em sala de aula e que provavelmente a ciência não chegará tão cêdo a uma conclusão (12). Por isso, caberão a eles, para o exercício profissional mais consciente, saber construir hipóteses generalizadoras na base dos conhecimentos científicos adquiridos, que deverão ser mantidos atualizados pessoalmente após o curso (20,21). Um dos objetivos é exercitar a capacidade autodidata de aprender a criar.

A maior parte da carga didática foi ocupada no processo de preparação em grupo de 5 pesquisas monográficas abordando aspectos dos seguintes temas fundamentais do programa: bioeletrogênese, controle da motricidade, sono, emoções e visão. Após a abordagem teórica e ou prática dos tópicos acima, o aluno recebia uma encadernação com resumo dos temas com algumas perguntas, que demandavam deduções do conteúdo dos principais textos fornecidos como referência. As perguntas não se encontravam diretamente respondidas nos textos e deveriam levar o aluno à reflexão, para atingirem as categorias cognitivas mais avançadas segundo classificação de Bloom e colaboradores (22), desde a "compreensão", passando pela "análise" e até a "síntese", com orientação cuidadosa do professor para deixar o aluno expressar primeiro o seu raciocínio (19,23,24). Depois de um período de grupos de estudos e discussão, primeiro com colegas e depois com o professor, o aluno deveria escrever individualmente as respostas completas em sala de aula, com direito a consulta bibliográfica, sem a pressão da memorização, pois as questões focalizavam a aprendizagem em categorias mais avançadas. 50 pontos da avaliação foram distribuidos nesses 5 processos.

No final do curso as turmas de alunos puderam escolher um dos temas a seguir: O sono, Bases fisiológicas da loucura, Bases fisiológicas da motricidade, A dor, Manifestações autonômicas das doenças psicossomáticas ou A evolução ontogenética do cérebro: da infância à velhice, para apresentarem uma monografia mais extensa e profunda, por processo semelhante ao anterior. Cada grupo dividia a matéria entre seus membros para prosseguir a pesquisa complementando por meios próprios e com os textos apresentados. O grupo, com consulta ou não do professor, se reunia e discutia, selecionando os tópicos mais importantes e sugerindo complementos para uma apresentação oral, que se fazia formalmente na presença do professor. Era ocasião para crítica e orientação para a redação da monografia final. Nessa fase esperava-se que os alunos pudessem chegar a exercer até a função "avaliação", já que teriam que priorizar os trabalhos feitos pelos membros da turma, atingindo o objetivo máximo do domínio afetivo de Bloom e colaboradores (22). A esta atividade foram atribuidos 20 pontos.

Um teste objetivo, em forma de certo ou errado ou não sei, subtraindo os pontos das questões erradas, verificou a aprendizagem do conhecimento científico formal no início e no final da disciplina. Procuraram-se questões onde estivessem em causa fases mais avançadas da classificação cognitiva de Bloom e colaboradores (22), cuja média ponderada nas 60 questões ficou compreendida entre as categorias "análise" e "síntese", longe da simples "memorização". Essa atividade valia 30 pontos.

Testes subjetivos constituido de questionários, tipo verdadeiro ou falso ou não sei, foram aplicados duas vezes, um no início e outro no final do curso para avaliar mudanças de comportamento durante a disciplina. Esse teste revelava o nível atingido pelo aluno em cada assunto no domínio afetivo (ou cognitivo) na classificação de Bloom e colaboradores (22,25,26). Ele era constituido de 60 questões, cuja consistência era medida pela coerência em respostas pareadas apresentadas em ordem aleatória em questões "afirmativas" e "negativas", que abordavam os seguintes temas: hábitos mentais, estrutura da disciplina, processo pedagógico, aplicação da ciência, metaciência e filosofia de ciência. Os testes analisados serviam de orientação para aperfeicoamento dos próximos a serem aplicados. Por exemplo, localizando-se as dificuldades de expressão e procurando-se uma redação cada vez mais simples e adequada. A resposta era considerada consensual se o desacôrdo fosse menor do que 5%, e contraditória se acima. Os rendimentos inicial e final foram avaliados e a significância de sua diferença (Teste Chi Quadrado) indicaram a eficiência pedagógica por questão (27).

A análise estatística dos questionários foi conduzida através do pacote estatístico MINITAB (28) no computador IBM 4341, do Laboratório de Computação Científica da UFMG.