Genética determina linhagem ameríndia
 
Os povos indígenas das Américas são descendentes de dois grupos siberianos, kati e altai, que migraram através do Estreito de Bering, quando ali havia uma faixa de terra firme. ''Há uma identidade genética entre os povos nativos das Américas, como se descendessem de um único pai - o Adão americano, que viveu há entre 12 mil e 25 mil anos'', diz Fabrício Santos, geneticista da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

Fabrício estudou a evolução genética, através da variabilidade molecular do cromossomo Y, das populações indígenas do oeste e do leste da América do Sul. Nesta espécie de arqueologia molecular, a equipe da UFMG, integrada também pelos geneticistas Sérgio Pena e Eduardo Tarazona, inicialmente buscava uma resposta genética para a diferença entre os povos andinos e os de outras regiões da América do Sul.

Cromossomo - Estudos anteriores constataram que populações isoladas preservam as identidades genéticas que tinham antes dos grandes movimentos migratórios do século 16. Ao optar pelo estudo do cromossomo Y, transmitido apenas pelo pai para os filhos do sexo masculino, os pesquisadores sabiam que ele passa inalterado ao longo das gerações até que ocorra mutação.

As transformações demográficas pelas quais passa uma população deixam marcas na distribuição de seus genes. Através da análise do DNA é possível identificar tais marcas e fazer um retrato do que aconteceu ao longo dos tempos. Assim, pela análise do DNA de 192 indivíduos de 18 grupos indígenas, os geneticistas descobriram que os povos do leste e do oeste da América do Sul seguiram padrões opostos de comportamento demográfico, que se refletiram na diferenciação genética.

Os escolhidos para estudo, segundo artigo na revista da Fapesp, foram grupos andinos do Peru e do Equador e sete grupos indígenas brasileiros (xavante, uai-uai, caritiana, ticuna, gavião, zoró e suruí), além de tribos do Paraguai e da Argentina.

Troca - Na região andina, houve maior troca de material genético nos cruzamentos (fluxo gênico). No geral, ocorreu uma homogeneização das populações, mas, dentro de uma mesma população, há maior diferenciação genética entre indivíduos. O contrário ocorreu no oriente da América do Sul: as populações são menores na Amazônia, no Planalto Central Brasileiro e no Chaco. A troca de material genético nos cruzamentos é baixa. Resultado: muitos grupos isolados e geneticamente diferenciados e maior homogeneidade dentro de um mesmo grupo.

As mudanças climáticas também contribuíram para que povos do leste e do oeste da América do Sul se diferenciassem. Há 12 mil anos, as geleiras, disse Eduardo Tarazona à revista da Fapesp, liberaram os Andes, permitindo o assentamento das populações e o desenvolvimento de um complexo cultural e biológico comum. No leste, a floresta tropical se expandiu, ocupando e fechando os espaços de savana, resultando na Floresta Amazônica, que passou a limitar o fluxo gênico das populações. Estas se fragmentaram e permaneceram culturalmente isoladas.

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[10/JAN/2002]