18 de novembro de 1998




 


 

Os frutos da miscigenação
 

Foto: LUCIANA DE FRANCESCO
SÉRGIO PENA: "É quase impossível achar um brasileiro que não tenha genes africanos"

O presidente Fernando Henrique Cardoso estava certo quando disse que tem um pé na cozinha. Nos 500 anos desde que os portugueses aportaram aqui, o cruzamento de etnias tão diferentes foi tão intenso que é quase impossível encontrar um brasileiro que não tenha em seu código genético genes africanos ou ameríndios. Diferentemente da Índia, onde o milenar sistema de castas acabou isolando grupos com uma identidade genética muito marcante, aqui a miscigenação agiu no sentido contrário. 

Apesar da sua enorme diversidade, a população brasileira já apresenta em sua média uma característica genética bem própria. Essa é a conclusão de uma pesquisa científica cujos detalhes ainda são mantidos em sigilo porque precisam ser publicados em uma revista científica como a Nature ou a Science para ter validade. Mas, segundo Sérgio Pena, coordenador da pesquisa que analisou amostras genéticas de variados pontos do País, mais de 80% dos brasileiros têm em seu código genético DNAs mitocondriais africanos ou ameríndios herdados por alguma antepassada da mãe, e mais de 90% têm cromossomos Y europeus herdados de pai para filho ou filha desde algum momento da árvore genealógica. 

"A razão é simples", argumenta Sérgio Pena. "Confirmando o sociólogo e escritor Gilberto Freyre (autor de Casa grande e senzala, de 1933), a miscigenação aqui é antiga. Quando os portugueses vieram colonizar o Brasil não trouxeram suas mulheres com medo do ambiente selvagem e acabaram tendo filhos com nativas ou escravas africanas." Desde então, a miscigenação tem sido tão comum que nas amostras analisadas pela equipe de Pena a que tinha o maior número de genes africanos foi colhida de um rapaz loiro de olhos azuis. "Portanto, se a individualidade genética é realmente alta em todo o mundo, aqui ela é maior ainda, como mostra a diversidade estampada no rosto da população brasileira." Bom, mas o presidente Fernando Henrique também estava errado porque não se deve vincular uma herança genética tão rica e antiga como a africana à cozinha da casa.

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