Impactos Sócio-ecológicos na Pressão Arterial
de Populações Rurais Amazônicas: Uma Investigação Sobre a Ontogenia
da Hipertensão
Silva H.P.
Museu Nacional/UFRJ, Rio de Janeiro
hdasilva@acd.ufrj.br
Investigações em diversas populações do mundo têm
dado suporte à hipótese de que o processo de “Ocidentalização” está
associado à elevação dos níveis pressóricos e ao aumento na
incidência de hipertensão arterial (HA). Embora a HA já há muito
seja reconhecida como um fenômeno multifatorial, pouca relevância
tem sido dada às condições sócio-ecológicas como fatores
fundamentais na sua gênese. Neste estudo, os padrões de pressão
arterial (PA) de seis populações amazônicas (Caxiuanã, Paricatuba,
Aracampina, Praia Grande, Santana e Ponta de Pedras) são
investigados a partir de uma perspectiva bioantropológica, visando
contribuir para o entendimento dos fatores associados à ontogênese
da HA em grupos com baixa prevalência dos fatores de risco
clássicos. O estudo foi realizado em grupos Caboclos da Amazônia
Paraense vivendo em condições ambientais diversas e em diversos
estágios do processo de transição de uma economia de
subsistência/rural para uma economia de mercado/(peri)urbana, o que
se conhece por 'Ocidentalização'. Um total de 419 indivíduos adultos
(223 mulheres e 196 homens), com idades variando entre 17 e 94 anos,
participaram voluntariamente da pesquisa. Os resultados corroboram a
noção de que a PA é um fenômeno de bases complexas, sujeito a grande
variabilidade intersexual, interindividual e interpopulacional e que
varia, inclusive, de maneira importante nas diferentes estações do
ano. Uma análise mais detalhada da relação entre os modos e
condições de vida das populações e sua PA demonstra que, após
controlar por sexo, idade e os fatores clássicos de risco, é
possível observar que: os grupos em situação de maior
vulnerabilidade sócio-ecológica apresentam níveis pressóricos mais
altos, sendo a PA sistólica a mais sensível (p>0.05); em algumas
comunidades há um maior número de mulheres do que homens hipertensos
(p>0.05) sendo estas, em média, mais jovens que os homens portadores
da doença; nessas populações não há uma correlação direta entre
aumento da PA, a idade e o gênero, e a HA atinge principalmente
indivíduos entre 35 e 65 anos de idade, ocorrendo em cerca de 15% da
população total. No Brasil ainda há poucas investigações sobre a
saúde cardiovascular de populações rurais e, além de aumentar o
volume de informações disponíveis sobre tais grupos, este estudo
contribui para demonstrar que a HA tem sua gênese no processo de
Ocidentalização, e que fatores complexos como o local de residência
e o estresse associado às condições de vida e saúde de indivíduos
desde a juventude estão na base do desenvolvimento da doença
hipertensiva.
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