Condições de saúde bucal em uma população pré-histórica
litorânea
Bastos, M.Q. 1,2; Gomes, M.M. 1,3; Rodrigues-Carvalho C. 1.
1 Museu Nacional/UFRJ; 2 Universidade Candido Mendes; 3 Colégio
Pedro II.
muriloquintans@gmail.com
O presente trabalho apresenta o detalhamento das condições
dento-patológicas na série esquelética humana recuperada no Sambaqui Zé
Espinho, Guaratiba, Rio de Janeiro. Tal estudo integra o projeto Saúde e
Estilos de Vida em Populações Pré-históricas Litorâneas do Estado do Rio de Janeiro (apoio FUJB), cujo objetivo
principal é investigar a variabilidade das condições de vida e saúde em grupos
sambaquieiros. O sítio Zé Espinho apresenta datações entre 1.180 +/- 170 a 2.260 +/- 160 AP (Kneip & Pallestrini, 1987), é uma coleção esquelética constituída de 24
indivíduos, dentre os quais apenas 17 apresentaram condições de análise. Foram
registrados o grau de desgaste dentário, a ocorrência de cavidades periapicais,
cáries e perdas dentárias em vida. A série foi dividida de acordo com os agrupamentos
sugeridos pelos dados arqueológicos, considerando primeiramente dentro deste
sítio, os sub-sambaquis A e D e posteriormente considerando dois momentos
distintos de ocupação do sítio. As camadas II e III dos sub-sambaquis A e D
representariam um momento de ocupação anterior, sem cerâmica, e as camadas I
dos dois sub-sambaquis um momento de ocupação posterior, com presença de
cerâmica. Considerando-se a divisão pelos sub-sambaquis A e D, observou-se
certa variabilidade entre as camadas de cada sub-sambaqui. As camadas
aglutinadas em cada um dos momentos de ocupação apresentaram-se homogêneas.
Porém, foi verificado uma diferença significativa no percentual de perdas
dentárias em vida (por indivíduo), que aumenta no último momento de ocupação.
Embora a presença de lesões cariosas seja desprezível (apenas um caso não
conclusivo) e os demais indicadores não apresentem variações significativas
entre os dois momentos de ocupação, sugere-se que ocorreu uma efetiva mudança
no perfil dento-patológico do grupo. Todavia, não há elementos para sugerir uma
relação direta entre a presença de cerâmica no sítio e uma mudança no padrão
alimentar.
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